Bebendo e aprendendo: como o consumo de álcool influencia a aprendizagem.
peixe, aprendizagem, álcool, dependência e abstinência
O consumo excessivo de bebidas alcoólicas é considerado uma das doenças mais devastadoras e dispendiosas da atual sociedade, sendo responsável por inúmeros efeitos prejudiciais aos indivíduos e à sociedade. Dentre as áreas de investigação que abordam o consumo de álcool, muitas se preocupam em determinar os mecanismos de ação deste produto no cérebro. Apesar de anos de pesquisa, ainda é pouco o conhecimento sobre os mecanismos pelos quais o álcool afeta as funções neurológicas e quais seriam as causas exatas das deficiências cognitivas e de memória relacionadas ao seu uso em longo prazo. Uma das principais funções superiores do sistema nervoso é a capacidade de aprender e lembrar. Neste sentido, este trabalho visa observar como diferentes doses de álcool podem interferir na capacidade de aprendizagem de duas espécies de peixes Betta splendens e Danio rerio, este último um modelo bastante utilizado devido às características organizacionais e funcionais que compartilha com mamíferos. Para isto, diferentes concentrações de álcool (0%, 0,1%, 0,25%, 1% e 1,5%) foram usadas em doses agudas e crônicas e os animais alcoolizados ou em fase de abstinência foram testados em três protocolos experimentais: 1) Aprendizagem apetitiva -foi utilizado um protocolo de condicionamento associativo apetitivo, com pareamento de um estímulo condicionado (luz) com a oferta alimentar (estímulo não condicionado). Os dados deste experimento foram coletados, porém ainda não analisados. 2) Aprendizagem espacial - nesta tarefa o peixe foi testado quanto ao desempenho em um labirinto sem dicas ambientais, a fim de se testar a capacidade do animal de formação de mapas mentais. No tratamento agudo, o grupo controle (0%) e 0,1% de álcool apresentaram semelhança no desempenho; sob efeito da dosagem 0,25% de álcool, os peixes diminuíram o tempo de saída do labirinto já no 3º dia de teste, enquanto que as doses 1% e 1,5% prejudicaram o desempenho dos animais, tendo ocorrido aprendizado da tarefa somente no 5º dia de teste. Nos grupos em abstinência, controle e 0,1% de álcool apresentam desempenho semelhante, consolidando seu aprendizado no 4º dia, enquanto o animal que recebeu 1,5% de álcool só mostra aprendizagem no 5º dia de teste. Já o grupos 0,25% e 1% de álcool mostram aprendizagem da tarefa no segundo dia. 3) Preferência ambiental – foi testada a preferência por dois ambientes (base quadriculada X base branca) em um aquário do tipo shuttle Box e posteriormente à alcoolização no ambiente não preferido, foi observada novamente a preferência do animal. Neste teste, os animais alcoolizados a 0,1% não tiveram alteração comportamental, enquanto os animais que receberam 1% de álcool de forma aguda alteraram sua preferência e mantiveram a alteração por todo o período experimental. Tendo em vista os resultados até agora encontrados, podemos concluir que os efeitos do álcool na aprendizagem são dependentes da dosagem. Alem disso, doses baixas de álcool parecem maximizar o desempenho do animal em tarefas de aprendizagem, mesmo não alterando sua preferência, enquanto as doses mais elevadas produzem efeito de adição e prejudicam a aprendizagem dos animais.