O álcool é uma droga lícita de grande aceitação social e os impactos de seu consumo exagerado são alvos de preocupação nas últimas décadas. Um dos principais danos associados ao uso de bebidas alcoólicas é o consumo por mulheres grávidas. A exposição ao álcool durante a fase pré-natal compromete a função da placenta e o desenvolvimento do feto, podendo levar à Desordens do Espectro Alcoólico Fetal (FASD), responsável por alterações morfológicas, sensoriais e cognitivas. Muitos estudos têm buscado identificar os mecanismos de ação dessa substância em nível celular e, devido a limitações em estudos com humanos, muitas pesquisas utilizam modelos animais alternativos, como por exemplo, o peixe paulistinha (Danio rerio). Embora pesquisas recentes tenham explorado o paulistinha como modelo para a exposição alcoólica durante o desenvolvimento, esses estudos são focados principalmente em malformação e deformações morfológicas embrionárias, havendo uma lacuna no conhecimento de possíveis déficits comportamentais e cognitivos em indivíduos que não apresentam alterações físicas visíveis. Sendo assim, o objetivo desta tese foi investigar se a exposição precoce à doses moderadas de álcool pode causar alterações comportamentais ou cognitivas, e principalmente, se estes sinais seriam detectados em estágio precoce da vida. Para isso, (1) caracterizamos o desenvolvimento embrionário do zebrafish sob diferentes doses de álcool; (2) investigamos alterações comportamentais em larvas de peixe paulistinha sob contexto de tanque novo e esquiva inibitória; (3) analisamos a exposição do alcool em diferentes estágios embrionários na memória, examinando os níveis de morte celular em cada estágio; e (4) avaliamos os efeitos da exposição embrionária ao álcool na preferência por local, em peixes paulistinha alevinos e adultos. Nossos resultados mostraram que além da concentração de álcool utilizada e do estágio embrionário em que os animais são expostos, o efeito do álcool depende também do comportamento e contexto que está sendo observado, exigindo análises multidisciplinares. Observamos que indicadores comportamentais de FASD podem ser detectados em idades muito precoces e podem ser úteis para o diagnóstico precoce do transtorno. Além disso, confirmamos a versatilidade do peixe paulistinha como modelo animal para estudos do comportamento e farmacologia, e principalmente, do desenvolvimento, visto que o modelo facilitou abordagens científicas que seriam mais dificeis de serem desenvolvidas em modelos de mamíferos.