Ecologia comportamental de Hemidactylus agrius Vanzolini, 1978 e H. brasilianus (Amaral 1935) (Squamata: Gekkonidae) em áreas de Caatinga no nordeste do Brasil
Comportamento de forrageio; Ecologia trófica; Termorregulação comportamental; Período de atividade; Uso do espaço por.
Lagartos têm sido organismos amplamente utilizados em estudos de ecologia comportamental no mundo. Embora as espécies pertencentes à Família Gekkonidae sejam reconhecidas como sendo forrageadoras do tipo senta-e-espera, estudos têm demonstrado que alguns grupos apresentam modulações no comportamento de forrageio. No caso das duas espécies nativas de Hemidactylus ocorrentes no nordeste do Brasil (H. agrius e H. brasilianus), dados sobre a ecologia trófica evidenciam a presença de itens alimentares de baixa mobilidade, pouco comuns em dieta de espécies de modo de forrageio do tipo senta-e-espera. Aliado a isso, informações referentes aos perfis de atividade, ecologia térmica e comportamento de termorregulação dessas espécies ainda permanecem pouco esclarecidos. Outra questão relevante diz respeito à distribuição destas espécies ao longo do domínio das Caatingas, visto que, embora ocorram em simpatria em áreas serranas, em algumas áreas de depressão sertaneja há ocorrência de apenas uma, fato que pode estar relacionado com especificidades no uso e partilha de recursos. Neste sentido, esta tese tem como objetivo analisar os comportamentos de forrageamento e de termorregulação de Hemidactylus agrius e H. brasilianus, bem como o uso de recursos pelas duas espécies na Caatinga. Para isso, estão sendo efetuadas excursões com duração de 18 dias seguidos em duas áreas de Caatinga com fisionomias distintas (Caatinga latu e stricto sensu), localizadas nos municípios de Lagoa Nova e Serra Negra do Norte, Rio Grande do Norte, Brasil. Na primeira área ocorrem as duas espécies de Hemidactylus em simpatria enquanto que na segunda há a ocorrência de apenas de H. agrius. Netas áreas estão sendo realizadas buscas ativas noturnas ao longo de transectos preexistentes (600m). Para cada animal registrado, são anotadas informações sobre horário, hábitat e microhabitat e realizadas observações comportamentais por meio do método animal focal contínuo, com duração de 10min. Em seguida, os espécimes são capturados e são aferidas as temperaturas do corpo (Tc), do substrato (Ts) e do ar (Ta). Os resultados parciais demonstram que ambas as espécies são forrageadoras do tipo senta-e-espera, permanecendo em postura estacionaria durante maior parte do período de observação. Até então, na análise da dieta, foram registradas 16 categorias de presas, onde Orthoptera, Blattaria e larvas de Lepidoptera foram os principais itens nas duas áreas investigadas, com altos valores de sobreposição entre as duas espécies, porém H. agrius apresentou maior amplitude de nicho. Em relação à atividade, as duas espécies são noturnas com atividade registrada das 18h às 5h. Quanto ao uso de hábitat, H. brasilianus utilizou principalmente áreas de vegetação-arbóreo arbustiva, enquanto H. agrius utilizou principalmente áreas com afloramentos rochosos. As temperaturas médias do corpo (TC) de H. brasilianus e H. agrius em atividade na área serrana foram iguais a TC = 22,9°C e TC = 23,3°C, enquanto que a TC de H. agrius na Caatinga stricto sensu foi consideravelmente mais alta (TC = 26,2°C); correlações positivas significativas foram obtidas entre as temperaturas corporais das espécies e as duas temperaturas ambientais analisadas (ar e substrato). Em relação ao grau de termorregulação comportamental, os valores obtidos para as duas espécies foram relativamente baixos (Δ < 1), indicando que os comportamentos das espécies têm baixa influência sobre a manutenção da temperatura corporal nesses ambientes.