ATRAVESSAMENTOS DA PSICANÁLISE NA FORMAÇÃO DE PROFESSORAS
Psicanálise. Educação. Formação docente.
O trabalho objetiva analisar os efeitos produzidos pelo atravessamento da psicanálise nas trajetórias de formação docente inicial e continuada de professoras atuantes em instituições educativas. Para tanto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica acerca das interfaces entre psicanálise e formação docente, bem como entrevistas com três pedagogas que possuem suas trajetórias profissionais marcadas pelo encontro com o referencial psicanalítico.A pesquisa bibliográfica empreendida considerou os artigos publicados nos últimos 10 anos no Portal de Periódicos da Capes e na Plataforma Scielo, sendo selecionados particularmente as publicações referentes aos processos formativos de professores. As análises destes artigos privilegiaram a discussão sobre possíveis contribuições da psicanálise nas trajetórias formativas das docentes, indicando que tais subsídios se materializam basicamente em quatro eixos: (1) o professor enquanto sujeito; (2) as relações transferenciais entre professores e estudantes; e (3) os efeitos dos imperativos educacionais da sociedade contemporânea nas relações pedagógicas. Por sua vez, os resultados das entrevistas apontam o caráter singular dos encontros das pedagogas com a psicanálise, ratificando que esse atravessamento é considerado por elas como essencial em suas trajetórias formativas, sendo da ordem de uma escolha que ocorre no entrelaçamento entre as dimensões profissional e pessoal, guiada pelo desejo do sujeito. Nas trajetórias formativas destas pedagogas, o encontro com a psicanálise deu-se, via de regra, ao longo da formação continuada, momento no qual houve o encontro com a psicanálise pela via da análise pessoal, sendo a busca pelo atendimento psicanalítico motivada por questões emanadas da prática docente com crianças. De acordo com as entrevistadas, a docência é considerada desafiadora do ponto de vista subjetivo, por demandar processos de escuta e acolhimento que exigem considerar a criança e o adolescente enquanto sujeitos que são protagonistas dos seus próprios processos educativos, o que exige a ressignificação das idealizações existentes nas relações com os pares, com os estudantes e com as famílias. A partir dos dados construídos e das análises resultantes, conclui-se que a presença da psicanálise na formação docente é uma questão historicamente complexa e que atualmente é lacunar na formação inicial, de modo que o encontro com o referencial psicanalítico se dá, via de regra, na formação continuada. Adicionalmente, ficou evidenciado que a escolha pela psicanálise como um dos referenciais que fundamentem as posturas e práticas docentes permite lidar de forma diferenciada com questões inerentes à prática profissional em seus entrelassamentos com a dimensão pessoal.