SITUAÇÕES DE CONVERSA ENTRE CRIANÇAS E PROFESSOR(A) NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
SITUAÇÕES DE CONVERSA ENTRE CRIANÇAS E PROFESSOR(A) NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL |
Oralidade; Conversas; Ensino Fundamental; Prática docente.
O presente trabalho teve por objetivo analisar situações de interações orais do gênero conversa que ocorrem entre crianças e professor(a) no contexto de uma sala de aula dos anos iniciais do Ensino Fundamental e o papel da Professora na sua condução. Para tanto, tematizou questões relativas à linguagem, à oralidade, à conversa, ao papel do(a) professor(a) como principal mediador(a) de aprendizagens e condutor/propiciador de situações de conversas na sala de aula. O desenvolvimento da pesquisa se orientou pelas seguintes premissas: a) que a conversa é um gênero discursivo da modalidade oral da língua; b) que, como tal, possui conteúdo temático, estilo e construção composicional; c) que, enquanto gênero, precisa ser experienciada para ser aprendida; d) que o professor, como principal mediador de aprendizagens, precisa oportunizar essas experiências em sala de aula. A pesquisa visou responder à questão: que situações de interações orais do gênero conversa ocorrem entre crianças e professor(a) numa sala de aula dos primeiros anos do Ensino Fundamental e qual o papel do(a) professor(a) nesses momentos? O estudo assumiu, como aportes teóricometodológicos, princípios da abordagem qualitativa e da abordagem histórico-cultural de L. S. Vigotski e proposições de M. Bakhtin para a pesquisa nas ciências sociais, segundo os quais, é preciso considerar, na pesquisa sobre processos humanos, que os objetos de estudo são históricos, sociais e dialógicos; estão em permanente construção e em relação com seus contextos; que sua compreensão consiste em produção discursiva compartilhada por pesquisador e pesquisados. Como procedimentos metodológicos foram desenvolvidas entrevistas semiestruturadas e observações semiparticipativas com registro em Diário de Campo e apoio de áudio-gravações. O campo empírico foi uma escola da rede pública municipal de Natal/RN. Os sujeitos participantes foram a professora e as crianças de uma turma do segundo ano do Ensino Fundamental, com idades entre sete e oito anos. A análise dos dados propiciou identificar, na dinâmica da turma, a ocorrência de conversas em três diferentes situações: i) em atividades da rotina da sala de aula/de exploração de conteúdos; ii) na exploração de textos literários; iii) na resolução de conflitos. Entre essas situações predominam, quantitativa e qualitativamente, as conversas sobre atividades de rotina diária e exploração de conteúdos escolares, sendo restritas as ocorrências nas outras situações. Na condução desses eventos o papel da professora é, ao mesmo tempo, propiciador e limitante, visto que as situações em que ocorrem as conversas em sala de aula configuram poucas possibilidades de experimentação e aprendizagem do gênero pelas crianças, enquanto participação ativa na proposição de temas e de alternância de vozes. As conversas são conduzidas-controladas pela professora e se realizam, quase que em sua totalidade, como exploração de conteúdos e com poucas oportunidades de inserção das crianças como interlocutoras com direito a voz e escuta de suas manifestações expressivas específicas. Nosso estudo aponta para a necessidade de reconfiguração de práticas docentes em relação à oralidade das crianças e, especialmente, ao lugar das conversas nas vivências escolares, o que implica formação contínua em relação à temática.