LER É PODER SABER O QUE A GENTE NÃO SABE: SENTIDOS DA LEITURA POR CRIANÇAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL
Criança; Infância; Educação Infantil; Leitura; Sentidos infantis.
O presente texto dissertativo tem como objetivo analisar sentidos atribuídos à leitura por crianças no contexto da Educação Infantil e tematiza questões relativas à criança, leitura e Educação Infantil. Seu desenvolvimento orientou- se pelas seguintes premissas: a) A criança como sujeito capaz de produzir, em condições de interação e mediação, sentidos próprios em relação aos objetos e práticas da cultura; b) A leitura como prática cultural relevante presente na vida das crianças; c) O lugar da leitura na Educação Infantil. A pesquisa busca responder à questão: que sentidos a leitura assume para crianças no contexto da Educação Infantil? O estudo assumiu, como aportes teórico-metodológicos, os princípios da abordagem qualitativa e as proposições de Vygotsky sobre processos humanos e de Bakhtin para a pesquisa nas Ciências Humanas. Segundo esses pensadores é preciso considerar: que os estudos tratam, não de objetos dados, mas de processos em permanente mudança, constituídos em relações de mediação que precisam ser aprendidas; o objeto como sua compreensão, são produções discursivas, são textos; o pesquisador e os pesquisados são sujeitos em interação; o conhecimento é co-construído. A investigação envolveu os seguintes procedimentos metodológicos: sessões de observação do tipo semi-participativa e entrevistas coletivas e individuais do tipo semiestruturadas. O estudo foi desenvolvido em uma instituição de Educação Infantil da rede pública de Natal, RN – Centro Municipal de Educação Infantil – e teve, como sujeitos participantes, crianças com idades em torno de cinco anos e a professora de uma turma de nível IV. A construção e análise/interpretação dos dados apontam que: as crianças têm, no contexto pesquisado, possibilidades de interação com a escrita e de experimentação da leitura, ainda que não saibam ler convencionalmente, em situações diversas e significativas, o que vivenciam de forma lúdica e com relativa autonomia. As crianças produzem/expressam sentidos múltiplos em relação à leitura, sistematizados em centros-eixos de sentidos: 1) Ler como atividade de/para um tempo futuro; 2) Ler como atividade de adulto; 3) Ler como apropriação de conhecimento e poder; 4) Ler como atividade que atravessa espaços; 5) Ler como atividade de prazer; 6) Ler como atividade escolar. A análise dos discursos das crianças e a sistematização dos “centros-eixos” de sentidos aponta para o lugar relevante dessa prática cultural em seus contextos de vida e, de modo especial, da escola. Mostra também as possibilidades das crianças como sujeitos produtores de cultura e participantes dos contextos onde vivem. Por fim, demonstra a necessidade de que seus modos de pensar e significar a leitura sejam considerados na ressignificação das práticas pertinentes à leitura no contexto da Educação Infantil.