A ETNOPOÉTICA DE IRACEMA: DIÁLOGO CIÊNCIA E LITERATURA
Literatura. Iracema. Complexidade.
As obras literárias são operadores do pensamento que permitem acessar formas múltiplas de ver o mundo e a realidade. Propicia diversos pontos de vista e infinitas conexões. De forma particular, entre todas as formas de expressão da arte, a literatura é considerada a mais próxima da vida, capaz de religar todas as dimensões humanas - emotiva, racional, mística, particular, universal, corporal, histórica, mítica. O objetivo da tese é oferecer algumas reflexões sobre as fronteiras e pontes entre ciência e literatura, visando à compreensão da complexidade que as norteiam. Apresenta uma releitura do romance Iracema: lenda do Ceará, de José de Alencar, a partir de uma incursão minuciosa, reconstruindo caminhos atuais e os espaços naturais trabalhados por Alencar. Procura escutar os ecos desse romance indianista nos jovens estudantes universitários atuais. Num contexto mais amplo, tece argumentos que problematizam os múltiplos fios que hibridam ciência e literatura de modo à por em ação uma ciência da complexidade que distingue, mas não separa as diversas narrativas sobre o mundo. Para tal, a tese tem como interlocutores: Antonio Candido, Charles P. Snow, Edgar Morin, Emilio Ciurana, George Steiner, Ilya Prigogine, Isabelle Stengers, Roland Barthes. A tecitura das ideias aqui apresentadas não reduz o romance à ciência, mas situa-o como uma releitura do mundo, da vida, já que esta é matéria-prima do livro. Como estratégia de método, reconstruímos as viagens da protagonista, Iracema, como forma de atualizar o romance, resultando no vídeo documentário Caminhos de Iracema: sertão, serra e mar. Iracema – romance e personagem - instigam diálogos que possibilitam romper a dicotomia entre as duas culturas (Charles P. Snow), reconhecendo que elas não são incomunicáveis e revelando o argumento central da tese: Iracema pertence à ordem do complexo, é um romance híbrido que está além, muito além daquela serra que ainda azula no horizonte.