OS FILHOS EVANGÉLICOS DO NOVO CALDEIRÃO DO DIABO: A RELIGIÃO NA PENITENCIÁRIA DE ALCAÇUZ.
: Penitenciária de Alcaçuz, presos evangélicos, conversão, privilégios.
O tema da pesquisa encontra-se inserido em um campo de interseção entre a Sociologia da Religião e a Sociologia da Violência, tendo como objetivo geral estudar o significado sociológico da conversão de presos que vivem no maior estabelecimento prisional (Penitenciária de Alcaçuz) do Rio Grande do Norte às igrejas evangélicas. A pesquisa se justifica, pois o Brasil abriga a quarta maior população carcerária do mundo, com projeções indicando que ela poderá se tornará a maior do mundo em 2034. Além disso, esse estudo sobre conversão religiosa de presos para as Ciências Sociais é muito relevante, pois é um tema pouco desenvolvido no Brasil e merece atenção, uma vez que tanto a massa carcerária quanto os evangélicos estão em expansão em nosso país. A partir das observações precedentes, orientamo-nos pela seguinte problemática de pesquisa: a prática religiosa em Alcaçuz apresenta uma perspectiva meramente instrumental, na qual as ações dos presos convertidos estariam propositalmente orientadas para conquistar privilégios materiais ou simbólicos; ou puramente religiosa, onde se busca uma renovação moral? Para desenvolver o trabalho, a metodologia empregada foi exploratória-explicativa, utilizando-se a teoria de Goffman sobre instituições totais e a doutrina de Blumer relativa ao Interacionismo Simbólico e o método da História de Vida, além de considerações sobre a religião evangélica. De posse dessa base teórica, foi realizada a pesquisa de campo, na qual foram feitas entrevistas e aplicados questionários a 11 Agentes Penitenciários, 31 presos, Diretor e Vice Diretor (em novembro de 2011) e o atual Vice Diretor, o coordenador dos projetos sociais do Presídio e o coordenador de evangelização nos presídios do Rio Grande do Norte. Como resultado, verifica-se que em Alcaçuz os presos podem ser separados em dois grupos: o dos Pavilhões e os do Setor Médico. Os Pavilhões são marcados por problemas estruturais e gerenciais, onde se encontram presos ociosos em celas coletivas e com um histórico de tentativas de fugas, motins e assassinatos. O Setor Médico tem algumas celas individuas ou para duas pessoas, além de coletivas também, e os presos trabalham e são mais comportados, não há fugas ou rebeliões e que, por esses motivos acabam por ter maior confiança por parte da Administração. Quanto à presença de presos evangélicos, a maioria está no Setor Médico, onde há um local específico para os cultos (o que não existe nos Pavilhões). Por fim, conclui-se que o preso que se diz evangélico em Alcaçuz, embora seja visto com desconfiança quanto a sua real conversão, acaba por ganhar um voto de confiança e até que se prove o contrário – ou seja, que não está se escondendo atrás da bíblia para desviar a vigilância da Direção e praticar faltas disciplinares sem levantar maiores suspeitas, é tratado com mais respeito e tem mais oportunidades – morar no Setor Médico; ter trabalho, que na maioria das vezes é remunerado e garantir o reconhecimento de sua remição de pena, além de outros benefícios, encurtando assim o seu tempo de prisão.