A DÍVIDA DA VIDA: REDES CLIENTELISTAS NA SAÚDE “DE FAVOR”
A relação entre “prefeitos” e “pacientes”, usuários de uma “casa de apoio” em Natal, RN, apresenta traços de uma política clientelista tradicional ao mesmo tempo em que ocorre num contexto urbano e moderno, regido por uma instituição formal, o Estado. A Oestana, como é chamada essa “casa de apoio”, oferece diárias pagas pelas Prefeituras de cidades da Mesorregião do Oeste Potiguar de onde se deslocam doentes em busca de tratamento médico-hospitalar na capital. Essa assistência logística inclui tanto serviços pagos como acomodação, alimentação, transporte, etc. quanto aqueles não pagos tais quais informações, apoio e materiais hospitalares de uso pessoal, por exemplo. Ao acessar tais serviços, os “pacientes”, na maioria dos casos, assumem também uma dívida com o provedor de tais benefícios (o“prefeito”) que é eventualmente saldada com o voto nas eleições municipais. Para entender o significado social, político, simbólico e, sobretudo, vital dessa relação, desenvolvemos esse trabalho partir de observação direta, envolvendo entrevistas com os usuários da Oestana e visitas regulares a essa Casa as quais revelaram uma relação política operada por elementos como a moral e a sujeição, mas resinificada por novas categorias sociais como a afetividade e a lógica das redes.