“Quão romance é minha vida amorosa!”: Namoro virtual e narrativas
Namoro virtual. Orkut. Fato e ficção. Narrativas de si. Amor romântico.
A pesquisa se propõe a estudar o fenômeno do namoro virtual através da observação do Orkut, rede social on-line. Para tanto, analisa os debates travados em fóruns e enquetes de uma de suas comunidades virtuais, chamada Conheci meu amor pela internet. Como ponto de partida, colocam-se as seguintes questões: em que se revestem tais debates? O que subjaz às práticas que visam “interrogar” os próprios namoros? Conforme as hipóteses iniciais, tais debates desvelam diferentes aspectos sociais contemporâneos: 1) eles emergem para responder às demandas de uma sociedade que toma a reflexividade como elemento fundamental para a constituição do eu; 2) convertem-se em suportes, na medida em que as relações sociais, tecidas nesses espaços, aparecem investidas por uma escrita de si que indivíduos lançam mão para se constituírem enquanto sujeitos de sentido; por fim, 3) discutem-se namoros virtuais com vistas a reconstruir de outra maneira aquilo que foi vivido. A análise empírica demonstra que esses fóruns e enquetes apresentam-se enquanto um fenômeno social que dá origem a uma forma particular de apresentação do eu na internet. No ensejo por apresentarem-se, os mesmos atores acabam por construir narrativas de si. O que se observa nessas narrativas de namoros virtuais é a predominância de uma intriga, cujo desfecho revela-se exitoso, de resultado satisfatório, feliz. Os narradores elegem casos de namoros virtuais que se desenrolam sob a forma de uma felicidade amorosa associada a ideais românticos como dignos de serem retratados. O teor dessas narrativas é desses aspectos tributário. Portanto, a partir dessas formulações, defende-se neste trabalho a tese segundo a qual as narrativas de namoros virtuais são um misto de fato e ficção, na medida em que são narrativas tecidas com empréstimo tanto do imaginário romântico quanto da própria experiência amorosa vivida nos namoros. Em resumo, esta pesquisa esforça-se por compreender fóruns e enquetes cujo cotidiano amoroso é ficcionalizado e dramatizado através de jogos performáticos compostos pela fabulação romântica e pela experiência de concretude dos namoros virtuais.