Álbuns fotográficos de/por Enoque Neves: uma poética visual
Fotografia; Enoque Pereira das Neves; Imaginário; Gaston Bachelard; Terra sertaneja; Água; Infância; e Morte.
A imagem fotográfica a imagem desperta pulsões, numa experiência provocativa que aciona o campo mítico-fenomenológico – “decifra-me ou te devoro”. O texto fotográfico não constitui apenas um instante do “real”, é muito mais que um recorte congelado do tempo passado. Sobretudo, porque a compreensão da linguagem subjacente a imagem fotográfica se coloca dentro e para além do meramente “dado” e/ou “objetivado”. Na compreensão da imagem se dispõem regimes de subjetivação vazados por códigos culturais, domínios da linguagem, símbolos, experiências estéticas, criação simbólica, valores, memórias, imaginários. Nesse sentido, desponta o estudo, o levantamento e a sistematização do acervo fotográfico deixado pelo fotógrafo autodidata: Enoque Pereira das Neves (1918-2002), que produziu formas visuais reveladoras de orientações culturais coletivas e universos fotográficos imaginários. Ele fotografou por meio século a vida cotidiana do sertanejo, em terras potiguares e paraibanas. Na compreensão do acervo optei por subdividi-lo em álbuns os quais revelam as intimidades do fotógrafo com o lugar, uma escrita de si, um estado da alma, do sujeito que observa a relação sociedade e natureza, numa espécie de simbiose em que agem potências ressonantes de criação no devaneio da matéria, sobressaindo-se a pulsão terrestre, o enraizamento, os rizomas do homem ligado à terra, as tradições, a rusticidade, laboral, bem como o apelo estético direcionado a água: pulsão de vida em terras áridas. A compreensão do imenso acervo, avaliado em mais de cinqüenta mil fotografias é profundamente representativo da predileção temática circunstanciada pela infância, a narrativa enfoca imagens míticas como a do Erus nu, a madona e a criança, e práticas culturais do universo infantil, como o brinquedo e a brincadeira. Mesmo o acervo sendo um apelo estético a vida despontou a imagem fotográfica da morte, especialmente, a morte na infância o “anjo” e a morte de pessoas idosas como o desejo da “última imagem” daquele entre os seus. A pesquisa é transversalizada pelos seguintes objetivos: proponho um reconhecimento do acervo de Enoque Pereira das Neves no intuído de compreender o universo imaginário presente em sua obra fotográfica. Invisto também, na possibilidade de fazer a leitura do acervo enquanto álbum imaginário.