A DÍVIDA DA VIDA: CLIENTELISMO MÉDICO E POLÍTICA NO OESTE POTIGUAR
Clientelismo médico; troca; dívida; sujeição.
Esse trabalho aborda a relação clientelista estabelecida entre “prefeitos” e “pacientes” usuários de uma “casa de apoio”, a Oestana, cuja função principal é dar assistência logística a residentes de cidades do Oeste Potiguar que precisam fazer tratamento médico-hospitalar em Natal (RN), mediante o pagamento de diárias pelas Prefeituras das cidades dos doentes.
Para entender o significado político, simbólico e, sobretudo, vital dessa relação, desenvolveremos nossa pesquisa a partir de observação direta envolvendo entrevistas com os usuários da Oestana e visitas regulares a essa Casa.
Tal relação é fundada principalmente a partir de trocas eleitorais que envolvem tanto benesses materiais como, por exemplo, remédios, consultas e exames médicos, quanto serviços e bens simbólicos os quais remetem esse trabalho ao ‘princípio de reciprocidade’ (Lévi-Strauss, 1976), a ‘teoria da dádiva’ (Mauss, 2003) e à noção de ‘dívida’ (Lanna, 1995) cuja expressão comporta uma dimensão afetiva.
O entendimento do sentido desse vínculo depende antes de tudo da abordagem das categorias dos seus próprios atores, através das etnografias das trajetórias, das histórias de vida e do cotidiano dos usuários na Oestana. Cogitaremos assim o Clientelismo, desenvolvendo a noção de ‘dívida’ que ele suscita, na relação aqui tratada. Com base nessa maneira particular de significar e conceber o laço político e simbólico entre “prefeitos” e “pacientes”, finalmente, exporemos o que essas relações nos dizem sobre o modo de pensar e fazer política dos contextos dos quais temos nos ocupado.