MAX STIRNER, O ÚNICO E O QUE LHE É PRÓPRIO: UMA INTERPRETAÇÃO E(M) ALGUN(S) ENSAIO(S)
Stirner; filosofia política; filosofia alemã.
Este trabalho tem como objeto de estudo a principal obra do pensamento de Johan Caspar Schmidt - mais conhecido como Max Stirner (1806–1856), originalmente intitulada (em alemão), Der Einzige und sein Eingentum, e traduzido para a língua portuguesa - pela editora portuguesa Antígona - no ano de 2004, sob o título de O Único e a Sua Propriedade. Esta obra se tornou pública no ano de 1844, apesar de sua publicação ter sido datada de 1845, visto que o censor da época rejeitou o pedido de sua publicação - naquele ano – sob o argumento de que: “(...) em passagens concretas desse escrito, não apenas Deus, Cristo, a Igreja e a Religião em geral são objeto da blasfêmia mais despropositada, mas também porque toda a ordem social, o Estado e o governo são definidos como algo que não deveria existir ao mesmo tempo em que se justifica a mentira, o perjúrio, o assassinato e o suicídio, e nega o direito de propriedade”. Após este primeiro ataque e rejeição sofridos já no seu nascedouro, O Único viria a ser alvo de outros, por parte de, praticamente, todo o espectro do pensamento filosófico-político de sua época – incluindo aí pensadores como Ludwig Feuerbach e Karl Marx & Friedrich Engels -, apesar de, por outro lado, ter servido de inspiração para formulações e reformulações dos pensamentos de muitos daqueles que o atacaram em sua época, bem como de outros pensadores posteriores, tais como o próprio Nietzsche. Mesmo tendo sido vitimada por poderosas tentativas de apagá-la da história, esta obra tem demonstrado grande poder de percutir e foi o que nos levou a formular as seguintes questões: “Qual é a sua grande originalidade?”, “Como o seu autor pôde chegar a uma perspectiva tão impactante?” e “Qual é o seu ‘lugar político’ mais legítimo?” Empreendemos um esforço de elaborar respostas pertinentes a estas questões pela via da exegese de seu texto, levando em consideração tanto o ambiente intelectual em que o seu autor a produziu – seu contexto de vida intelectual – quanto à leitura pormenorizada dos textos atinentes à discussão em foco, leitura essa sempre pautada pela atenção aos significados e sentidos delineados pelos textos em seus contextos, como forma de precaução contra os limites e as ciladas das leituras cujo foco incide marcadamente sobre a estrita letra das construções fraseológicas. Nossas conclusões apontam para a idéia de que uma obra como esta, que subverte completamente os modos de pensar característicos da modernidade, continua sendo completamente singular, inclassificável na história do pensamento e das práticas políticas modernas, só vindo a encontrar alguma possibilidade de paralelo, de modo muito especial, com certa perspectiva autárquica da Grécia Antiga.