A Cor da Agroecologia: Intersecções entre Raça e Gênero na Construção do Conhecimento Agroecológico
Agroecologia; Mulheres Negras; Decolonialidade; Feminismo Interseccional.
A partir de uma abordagem decolonial e em articulação com o feminismo interseccional, este trabalho busca identificar como tem sido construídos os discursos em torno das questões relacionadas à raça e gênero na agroecologia. Questiona-se como a idealização e a naturalização da mulher universal contribuem para o apagamento e o silenciamento das mulheres negras na construção deste campo de conhecimento e, observa-se como essas mulheres que sofrem com os processos de racialização têm agenciado/reivindicado seu lugar de enunciação neste âmbito. As estratégias metodológicas utilizadas foram: revisão sistemática de literatura e revisão bibliográfica, além de entrevistas com 12 mulheres que participam da dinâmica do GT de mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) e/ou do GT de Mulheres da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), utilizando a análise crítica dos discursos, enquanto perspectiva crítica na produção de conhecimentos. Como resultados, percebe-se que embora a agroecologia anuncie em seu discurso a proposição de um projeto de transformação social com vistas ao enfrentamento e a superação, sobretudo, das desigualdades sociais, raciais e de gênero, dando ênfase à justiça social e em busca do bem viver para o conjunto da sociedade, ainda permanece na ordem do dia a reinvindicação pela visibilização da participação e o protagonismo das mulheres. Considerando esse contexto, a luta que vem sendo travada pelo movimento das feministas na agroecologia avançou no olhar sobre a diversidade das mulheres, onde, do ponto de vista das narrativas apresentadas no texto, são camponesas, indígenas, asiáticas, quilombolas, rurais, entre outras, entretanto o antirracismo anunciado não localiza na realidade brasileira, a cor, sentida na pele das mulheres negras, como central. É possível constatar que existe um diálogo em curso no tocante ao reconhecimento da interseccionalidade como instrumento reflexivo importante, mas sem fazer uso do seu caráter politico, se resumindo a um apelo teórico.