Temporada de Ingenios: a cena da contracultura na cidade de Natal na década de 80
A contracultura é mais conhecida como um fenômeno da segunda metade do século XX. Suas origens remontam o final da década de 1940, com os “uivos” da geração beat, cuja visibilidade começa na década de 1950. Porém o que se considera o estouro desse fenômeno, acontece durante os anos de 1960, tendo como principal vitrine, o Maio de 1968 na França, com desdobramentos durante a década de 1970 em alguns países da Europa e nos EUA, com a explosão do rock’in roll e do movimento hippie, influenciando gerações de jovens no mundo inteiro. No Brasil, a contracultura, tem seu auge na década de 1970, com desdobramentos na década de 1980. Em ambos os contextos a contracultura valeu-se da arte onde encontrou o ambiente mais fértil de expressão. Esta tese versa sobre alguns aspectos do ativismo intelectual e artístico em Natal na década de 1980, como um fenômeno que se insere no contexto da expressão contracultural. Tomamos como principal referencial o conceito de contracultura em Roszack (1972), para quem a contracultura foi a forma de contestação à racionalização da sociedade tecnocrata que se consolida depois da Segunda Guerra Mundial, cujo traço principal é a excessiva racionalidade das relações econômicas e socioculturais em todos os âmbitos da vida nas sociedades Ocidentais e, ainda, em Goffman e Joy (2007), que reconhecerem o período acima referenciado como o mais significativo, no entanto optam por analisar a contracultura como um fenômeno próprio da cultura, independente do tempo e do espaço e usam o termo “contraculturas” para designar as inúmeras experiências de contestação e negação às estruturas do establishment, em diversas experiências históricas, chegando mesmo a considerá-la como uma tradição de ruptura. A análise das expressões contraculturais na cidade de Natal na década de 1980, parte da seguinte questão: Como se manifestou a contracultura, quem eram os sujeitos, como se expressavam e interagiam os grupos de artistas que representavam a contracultura na cidade de Natal durante a década de 1980? Para responder a essa pergunta analisamos parte da produção artística e literária de alguns sujeitos e coletivos supostamente situados no circuito contracultural da cidade. Apoiamo-nos na concepção moriniana de acontecimento de caráter modificador (MORIN, 2005), para analisar a contracultura como um fenômeno que incorporaria a busca de expressão de uma cultura-revolta (KRISTEVA, 2000) e na tese das “tensões verticais” em Sloterdjik (2013).
Contracultura; Natal; cultura-revolta; tensões verticais; acontecimento de caráter modificador.