DA MANIVA AO GROLADO: Práticas produtivas e patrimoniais no processo identitário dos Tremembé de Almofala(CE)
Etnicidade; Tremembé de Almofala; Memória; Políticas patrimoniais.
Atualmente, o cenário político vivenciado pelos indígenas no Brasil passa por transformações que precisam ser melhor analisadas pelos estudiosos do campo das ciências sociais. O déficit da política de demarcação territorial observadas no século XXI se apresenta como um grande obstáculo na busca desses grupos sociais por acessar direitos coletivos. Tendo em vista isso, faz-se necessário um estudo que analise as novas estratégias de luta por direitos sociais e suas implicâncias nas relações cotidianas locais. Pensando esse contexto, tenho como objetivo geral compreender a atual dinâmica social identitária que envolve os Tremembé de Almofala. Os objetivos específicos são: a) analisar o processo de transformação da mandioca a fim de compreender os seus significados, apropriações e usos cotidianos e políticos; b) detectar os jogos sociais (arranjos) específicos do loco de pesquisa buscando compreender as estratégias de luta por ganhos sociais; c) detectar as classificações étnicas locais que alicerçam a construção da identidade genérica do que é ser Tremembé de Almofala. A metodologia empregada na pesquisa foi uma etnografia das mais variadas formas de socialização existentes nas comunidades, buscando apreender a produção social das redes de relações existentes. Aliada a etnografia, elaborei uma cartografia social das práticas pesquisadas tendo em mente registrar esses usos espacialmente dentro das localidades de acordo com as tramas sociais por eles traçados. A nível de considerações finais, a efetivação dos direitos requeridos pelos Tremembé de Almofala passa por um processo de legitimação social e jurídica da identidade do que viria a ser população tradicional e seu patrimônio cultural. Essa legitimação seria o mecanismo de salvaguarda desse direito garantido pela constituição. Desse modo, possuir um “patrimônio cultural” passa a ser percebido como “passaporte” para a emergência de direitos sem os quais a legalização das terras, por exemplo, de um determinado grupo se tornaria mais complexa e burocrática. É nesse contexto que o processo de transformação da mandioca, prática produtiva compartilhada por diversos grupos sociais locais, é reificado como patrimônio cultural pelos Tremembé de Almofala e sua rede de colaboradores na busca pelo acesso às políticas públicas diferenciadas. No mais, evidencio que os arranjos sociais específicos dos sujeitos locais (suas negociações, alianças e faccionalismos visualizadas nas suas práticas produtivas, sociais e políticas) são embates que ajudam a compreender a dinâmica do processo de identidade dos Tremembé de Almofala.