CENTRALIDADES, CENTROS LOCAIS E TURISMO NO NORDESTE BRASILEIRO: UMA LEITURA ALÉM DA HIERARQUIA URBANA
Centros Locais. Turismo. Produção do Espaço. Relações não-hierárquicas.
Grande parte dos estudos sobre centralidade urbana, especialmente no contexto das interações entre cidades, foca nas atividades terciárias e adota uma perspectiva hierárquica, econômica e funcional. Nessa abordagem, a centralidade de uma cidade é avaliada pela sua capacidade de atrair e polarizar fluxos, bem como pela sua posição hierárquica dentro das redes (regiões) urbanas, determinada pela disponibilidade, diversidade e quantidade de serviços e atividades econômicas. Um dos principais referenciais teóricos nesse campo é a Teoria das Localidades Centrais, desenvolvida por Christaller (1933), e amplamente aplicada em estudos como as Regiões de Influência das Cidades (as REGIC’s), realizadas pelo IBGE em várias edições. Embora essa teoria tenha contribuído para a compreensão das redes, regiões e hierarquias citadinas, ela apresenta limitações e incoerências (exemplos: rigidez analítica, não consideração pela historicidade dos lugares, exclusão de outras atividades econômicas). Isso gera a necessidade de complementações e releituras que incorporem novas dinâmicas espaciais. É nesse contexto que a tese se desenvolve, propondo uma análise espaço-temporal da centralidade interurbana baseada na teoria de produção do espaço do Henri Lefebvre (da relação sociedade-espaço-tempo), e considerando as mudanças e a complexidade das interações espaciais vigentes no mundo globalizado (para além da ideia rígida da hierarquia urbana). Dentro desse escopo, investigamos a centralidade interurbana em centros locais, com foco na atividade turística – um aspecto geralmente pouco explorado nesse tipo de estudo. Nossa análise cobre o período pós-década de 1990, marcado pela expansão global e nacional do turismo e pela intensificação da globalização, com ênfase nos municípios de Cairu (BA), Jijoca de Jericoacoara (CE) e Tibau do Sul (RN), e seus principais destinos turísticos: Morro de São Paulo, Jericoacoara e Pipa. Objetivamos assim, analisar, sob uma perspectiva espaço-temporal, as dinâmicas da centralidade interurbana em centros locais resultantes das práticas e das atividades turísticas, considerando os espaços e contextos mencionados. Metodologicamente, a tese foi desenvolvida a partir de três eixos: a) leituras, reflexões e discussões conceituais, teóricas e analíticas sobre a problemática-chave do estudo; b) análises espaço-temporais (abordagens históricas, geográficas e documentais) sobre as cidades e lugares investigados; c) pesquisas de caráter empírico. A partir dessas abordagens, constatamos que essas cidades ocupam os degraus mais baixos no sistema hierárquico urbano brasileiro; paradoxalmente, estão no patamar mais elevado na categorização do turismo nacional. Os eventos que marcaram esses espaços, especialmente seus destinos turísticos, promoveram um conjunto de materialidades, práticas e representações que as posicionam como pontos centrais nas tramas espaciais. Embora não possuam grandes equipamentos de comércio e serviços, essas cidades atraem fluxos espaciais (materiais e imateriais) por meio de seu conteúdo turístico (infraestruturas, atrativos, imagens e dinâmicas), constituindo-se como centralidades. Esse fato revela diferentes possibilidades de compreensão (apreensão) sobre a importância dos lugares e suas centralidades, e oferece suporte a futuras discussões nesse campo. Mostra ainda que o fenômeno pode ser estudado a partir de diferentes perspectivas, ampliando os horizontes de análise.