USOS DO TERRITÓRIO NA PANDEMIA DA COVID-19: OS CIRCUITOS DA ECONOMIA URBANA NA VENDA E ENTREGA DE ALIMENTOS DEMANDADOS POR APLICATIVOS NA CIDADE DO NATAL (RN)
Usos do território; circuitos da economia urbana; pandemia da Covid-19; aplicativos de venda e entrega de alimentos; precarização do trabalho.
Estudamos os nexos dos circuitos da economia urbana na venda e entrega de alimentos demandados por aplicativos na cidade do Natal (RN), considerando o contexto de pandemia da Covid-19 como um evento que afetou o quadro socioespacial, particularmente o funcionamento da economia e o desenvolvimento do emprego, e que impôs novas dinâmicas ao território, dentre elas a intensificação do uso de aplicativos de delivery. Frente a uma desaceleração das atividades econômicas e a necessidade de diminuição da circulação de pessoas no espaço, uma parcela significativa da população perdeu os seus postos de trabalho e passou a encontrar nos aplicativos de entrega de alimentos uma alternativa para conseguir uma fonte de renda. Para os diversos estabelecimentos comerciais, sobretudo aqueles do ramo alimentício, foram esses aplicativos que garantiram a circulação de suas mercadorias na cidade, possibilitaram a permanência das suas vendas e, por conseguinte, o abastecimento da população urbana diante de um cenário de isolamento social. No entanto, apesar da importância que esses app’s adquiriram nos últimos anos, a expansão de empresas privadas de entrega por aplicativos sinaliza para um novo estágio da precarização do trabalho, a uberização. Sua expansão revela diferentes usos do território pelos agentes hegemônicos e não hegemônicos da economia, e evidencia novos nexos entre os circuitos da economia urbana a partir dos usos das viáveis-chave desse período (técnica, informação, consumo e finanças). Na pesquisa que se segue, nos propomos a pensar as empresas privadas de entrega por aplicativos, como o iFood, 99Food, Rappi e outras, como agentes hegemônicos que integram o circuito superior da economia urbana por comportarem em suas atividades elevado grau de capitalização, tecnologia e organização burocrática. Do mesmo modo, consideramos os entregadores como agentes que pertencem ao circuito inferior da economia devido ao uso intensivo do trabalho, baixo grau de capitalização e organização pouco sofisticada de suas atividades. Os estabelecimentos comerciais que oferecem seus produtos por meio desses app’s, por sua vez, constituem tanto o circuito superior como o inferior, haja vista que eles se diferenciam pelo grau de capitalização, organização e tecnologia presentes no seu funcionamento. É a partir desses diferentes agentes envolvidos na venda e entrega de alimentos por aplicativos que se torna possível observar um aprofundamento, sobretudo no contexto da pandemia, da relação de dependência, complementaridade e subordinação entre os circuitos da economia urbana. Nesse sentido, objetivamos analisar os nexos dos circuitos da economia urbana na venda e entrega de alimentos demandados por aplicativos na cidade do Natal, na pandemia da Covid-19, considerando os usos do território por agentes hegemônicos e não hegemônicos da economia, a importância do meio técnico-científico-informacional para a dinâmica socioeconômica em plena pandemia e a precarização do trabalho nesse contexto. A metodologia utilizada é alicerçada nos seguintes procedimentos: revisão bibliográfica; levantamento de dados estatísticos e produção cartográfica; pesquisa documental; entrevistas e aplicação de questionários com entregadores e donos de estabelecimentos comerciais. Como recorte espacial da nossa pesquisa, delimitamos algumas centralidades na cidade do Natal, por possuírem uma vasta variedade de estabelecimentos comerciais com diferentes graus de capitalização e organização, além de concentrarem trabalhadores entregadores.