EM BUSCA DE UM LUGAR NA CIDADE:TOPOFILIAS E TOPOFOBIAS DE PESSOAS SURDAS – NATAL/RN
Geografia de surdos, comunidade surda, Topofilia, Topofobia, Cidade.
A análise da cidade brasileira atual evidencia a carência de estudos geográficos relacionados aos espaços das minorias, fazendo parte desse contexto os surdos. É sabido que nos últimos anos do século XX, os surdos vêm se organizando e se fortalecendo socialmente por meio das políticas de acessibilidade e inclusão, presentes na pauta de debate local, nacional e internacional. Sendo assim, a mobilização desse grupo (de forma presencial e virtual) por direitos manifesta-se em diferentes frentes, inclusive na reivindicação de viver a cidade. Então, diferente das realidades vividas pelos surdos em épocas mais remotas, momentos em que a surdez era vista como uma deficiência incapacitante, cada vez mais, tem-se presenciado um movimento contrário de olhar para as barreiras criadas para impedir o fluxo desses sujeitos, seu ir e vir, seus desejos e necessidades. Desta feita, essa tese se constrói a partir do deslocamento da deficiência do sujeito para a deficiência da cidade. Trata-se de enunciar a cidade como um organismo deficiente para atender às vivências dos surdos, em suas múltiplas faces. Por isso, procura-se compreender como os sujeitos surdos vivenciam os espaços citadinos do Natal/RN, quais as características dos espaços de sinalização em Libras (Língua Brasileira de Sinais) e dos lugares mais frequentados ou não pelos surdos, buscando, assim, discutir, numa perspectiva relacional, as deficiências citadinas associadas aos sentimentos existentes nos surdos, em relação aos lugares. Para isso, o diálogo com Yi-Fu Tuan (1980- 2012) sobre topofilia e topofobia configura-se no alicerce para a construção narrativa, ancorada nas vivências cotidianas dos sujeitos surdos, seus enlaces, desenlaces, recusas e expansão. Por meio do reconhecimento dos movimentos de dentro para fora e de fora para dentro, experimentado pelos surdos na ambiência urbana, configura-se uma Geografia matizada em lugares criados e recriados no jogo ambivalente da seleção, tensão, hegemonia, heterogenia, mobilidade, circulação, comunicação e tecnificação espacial. Assim, o arranjo argumentativo passa por estruturar a narrativa considerando lives, entrevistas, pesquisa de campo e outras fontes secundárias que complementarão toda a discussão desta tese, construída no período da pandemia da COVID-19. As narrativas de vivência de lugar dos surdos já revelam um forte grau de insatisfação desse sujeito em relação a diferentes espaços públicos e privados, onde é possível observar que lugares são evitados, por não se mostrarem inclusivos e/ou acessíveis a essas pessoas. Além do mais, ideias de fragilidade e de desconforto espacial são empregadas para apontar como este sujeito se sente na cidade “dos ouvintes”. Portanto, observou-se que esses sentimentos mostram-se importantes indicadores a serem considerados na construção de um entendimento sobre o que é uma cidade eficiente e deficiente na perspectiva do surdo, de modo a torná-la progressivamente mais inclusiva e amigável.