O MITO DA CAVERNA NA ATUALIDADE: História de vida de pessoas ostomizadas em situação de rua atendidas pelo centro de reabilitação adulto em município do nordeste brasileiro
Palavras-chave: Pessoas em Situação de Rua; Transição; Vivência; Ostomia; Memória; História Oral; Pesquisa Qualitativa
Diversos fatores podem contribuir para o fato de pessoas buscarem a rua como “opção de moradia”, entre esses fatores se destacam os determinantes sociais, organizados a partir da lógica capitalista do ter em detrimento do ser. Nesse contexto o seguimento pesquisado se configura pessoas ostomizadas em situação de rua que hipoteticamente enfrentam dois aprisionamentos, seja pelo impacto biopsicossocial que o estoma provoca nesses usuários, seja a escuridão cognitiva da “necessidade” intuitiva de conviver nas ruas pela condição social imposta. Trata-se de um estudo exploratório, descritivo, com abordagem qualitativa, que objetiva analisar narrativas de pessoas em situação de rua ostomizadas atendidas no Centro de Reabilitação Adulto-CRA de um estado do nordeste brasileiro, a fim de propor melhorias na atenção prestada visando o atendimento integral, superação de estigmas e preconceitos. Os dados foram levantados em dois momentos: pesquisa documental realizada nas fichas de atendimento do CRA, em setembro a dezembro de 2019; e entrevistas orientadas pela abordagem da história oral temática, realizadas com pessoas em situação de rua atendidos pelo CRA, entre janeiro a maio de 2020. As entrevistas foram inseridas no software Atlas.ti 7 para organização e tratamento dos dados, que foram analisados utilizando-se a análise de conteúdo temática. A pesquisa recebeu aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte em 04/10/2019 nº do CAAE: 19348419.9.0000.5537. De acordo com a pesquisa as categorias geradas foram: “Estar em situação de rua: preconceito, estigma; realiza trabalhos informais; dificuldade de subsistência; existência de laços afetivos, companheirismo; insegurança; "Utilizar a bolsa: dificuldade em se relacionar”; “Utilizar a bolsa: não há local para realizar a higiene”. Da análise dos dados das entrevistas emergiram 34 subcategorias ao todo. Os resultados mostraram que o grupo de participantes tem em sua maioria menos que 40 anos (60,00%); sexo masculino (100,00%); cor parda (60,00%); ensino fundamental completo (40,00%). Em relação ao estado de nascimento, a maioria nasceu no Rio Grande do Norte(40%), os demais entrevistados nos Estados da Paraíba, Pernambuco e São Paulo. Quanto ao tempo em situação de rua a maioria está de cinco a dez anos morando nas ruas (40,00%). Todos informam ter profissão seja formal ou informal. Houve unanimidade nos relatos de que o fato de estar em situação de rua portando uma bolsa de colostomia seja algo duplamente limitante, seja pela falta de informação de onde buscar os serviços especializados, seja o estigma e preconceito, por sua condição de estar morando nas ruas dado os aspectos característicos inerentes a portar uma bolsa de colostomia com excreções de odor desagradável. Diante dos resultados o produto deste trabalho é a proposição de implementação de instrumento eletrônico de dados que possibilite o acompanhamento e o matriciamento dos casos, visando assistência integral dos sujeitos, com articulação em rede e acompanhamento sistemático possibilitando assim a garantia de acesso da população em situação de rua à rede de assistencia à saúde com equidade e justiça social.