O SOTABARROCO CRIOULO COMO PREFIGURAÇÃO DA AMÉRICA LATINA
Barroco latino-americano; prefiguração; crioulo; sotabarroco; decolonialidade.
Esta pesquisa analisa como as obras literárias de escritores latino-americanos crioulos do período Barroco podem ser consideradas como bases prefiguradoras do que viria a ser, não apenas a conformação do território continental, como também o início da consciência de pertencimento a esse lugar, a América Latina. Para tanto, particularizamos essas produções intelectuais como sotabarroco, sob o intento de gerar uma compreensão de como os autores foram postos às margens do cânone literário vigente, a partir do século XVII, unicamente pela condição de nascença não peninsular. Foram tomadas como base analítica as produções dos poetas crioulos Gregório de Matos (Brasil) e Juan del Valle y Caviedes (Peru), demonstrando como o âmbito discursivo também representou mais um espaço colonialista instituindo, já desde esse momento, uma valoração negativa e inculta sobre esses intelectuais. De caráter qualitativo, essa pesquisa fundamenta-se no processo de revisão bibliográfica, pois realizamos um recorrido historiográfico sobre o Barroco europeu, analisando teorias clássicas como as de Wölfflin (1986), Weisbah (1942), Hauser (1993) e Benjamin (1984), buscando verificar o estado da arte de nosso objeto temático. No cenário da crítica barroca latino-americana, Carpentier (2007), Lezama Lima (1988, 1993), Sarduy (1987), Chiampi (1993, 1998) e Fuentes (2013), entre outros autores que deliberam a necessidade de uma literatura continental que transparece sua identidade peculiar e independente. Por fim, ao longo do trabalho buscamos respaldar os argumentos propostos, estabelecendo comparações e apontando na escritura dos poetas escolhidos, traços reveladores dessa prefiguração, bem como a consciência de ser parte de uma nova paisagem. Dessa maneira, foi possível perceber como as estruturas ortodoxas, já desde o século XVII, criam espaços restritos que seguem marginalizando as literaturas que não reconhecem como reflexo seu. Seria dizer que, mesmo o sentimento de cópia ou de não originalidade, se traduz como uma forma de pensamento institucionalizada, que busca defender sua razão imperialista. Logo, a relevância de proposições como essa, reside no questionamento das dinâmicas dessas construções fixadas historicamente, tentando apontar caminhos de revisitação, compreensão e proposição de novas percepções que denunciem e desconstruam as estruturas que ainda insistem em encerrar em um lugar sota as nossas formas de literatura.