SOLIDÃO, EU NÃO ME PERTENÇO: FLUTUAÇÕES LITERÁRIAS E CRISE IDENTITÁRIA NAS VERSÕES DE ROTEIRO E FILME EM MISTER LONELY, DE HARMONY KORINE
Literatura. Cinema. Roteiro. Mister Lonely. Harmony Korine.
Este trabalho intenciona provocar discussões acerca do roteiro cinematográfico enquanto gênero possível dentro do campo da Literatura, considerando suas múltiplas faces de escritura e concebimento imagético que confrontram paradigmas tradicionais em torno de sua própria natureza escrita. Verificaremos, no percurso, elementos de estrutura e conteúdo que permitem o aguçamento argumentativo para determinado estudo, alçando possibilidades interpretativas sobre a fluidez do gênero, usualmente considerado técnico e, portanto, não literário, em detrimento das aproximações que apresenta com a linguagem e a forma essencialmente poéticas. Também pretendemos apresentar uma leitura analítica da obra Mister Lonely, do cineasta Harmony Korine, em suas duas versões: o roteiro e o filme, a fim de proporcionar apreciações que se debrucem sobre ambas as configurações, por intento de valorizar tanto a peça fílmica quanto a escrita. Além disso, intencionamos verificar como acontece a crise de identidade na narrativa, tomada pelas personagens, especialmente o protagonista. A obra em questão apresenta, em ambas as formas de manifestação, configurações cabíveis dentro da noção de arte literária, especialmente quando se trata do roteiro, o gênero escrito, que dispõe de elementos estéticos sintáticos e semânticos de apreciação. Para suporte, teremos como itinerário teórico autores que versam a respeito de temas relativos à literatura, como Eagleton (2006-2012), Lajolo (1995), Roland Barthes (2004-2005) e Tzvetan Todorov (2017); assuntos concernentes ao roteiro cinematográfico, como Syd Field (2001), Jean Claude-Carrière e Pascal Bonitzer (1996); autores que discutem sobre conteúdos da linguagem do cinema e da adaptação, como Hutcheon (2011), Stam (2006), Henri Mitterand (2014), Ingmar Bergman (1960) e Jennifer Van Sijll (2017); e também estudiosos do sujeito social contemporâneio, como Zygmunt Bauman (1998-2004) e Stuart Hall (1992), entre outros.