Câmara Cascudo e seus "animais escritos" no Canto de Muro
Câmara Cascudo;Fabulação; Animalidade; Devir-animal; Animal-escrita.
O trabalho de tese aqui realizado possui como foco o romance Canto de muro (2006), de Câmara Cascudo (1898 – 1986 - Natal-RN). A partir de uma pesquisa qualitativa, bibliográfica e interpretativista, mostramos que o autor se mantém pesquisador, mesmo na escritura do texto literário, pois o romance foi produzido por meio da observação cotidiana do comportamento dos personagens-animais. Nele, o autor apresenta uma moderna e nova forma de fabular, em que os animais não são os de grande porte, como na fabulação tradicional, mas são aqueles considerados ínfimos pela sociedade, como a barata, o morcego, o rato, o escorpião, entre outros. Para compreendermos aspectos temáticos presentes nessa obra cascudiana, buscamos apoio nas reflexões de Merleau-Ponty (2002), Didi-Huberman (2010) e de Nancy Huston (2010), no que diz respeito, respectivamente, à poeticidade na observação do mundo, à ausência de uma verdade evidente e à construção das verdades por meio das ficções. Articulamos essas reflexões com o pensamento dos franceses Deleuze e Guattari (1995; 1996; 1997; 2002), com relação ao nomadismo, à escrita como máquina de guerra, à desterritorialização, à literatura menor, ao devir-animal e ao animal-escrita. A partir dessa perspectiva animal, recorremos, ainda, à teoria de Derrida (2011). Para dialogar com as ideias de Derrida, recorremos ao pensamento de Maciel (2016) sobre a animalidade. Em sintonia com as reflexões propostas, contamos com o suporte teórico de Foucault (2013), Rancière (2009), Barthes (2003; 2004) e Sousa (2006), objetivando mostrar que Cascudo se coloca como um pensador que, por meio da escritura literária, contribui para uma visão diferenciada sobre os animais, fugindo, assim, do aspecto antropocêntrico. As questões desenvolvidas por Cascudo, com relação aos animais, dão-se por vias transversais, pelo fora, nas dobras, como nos orienta Levy (2011).