J'Accuse...!: representaçãoes textual-discursivas de Dreyfus e Esterhazy
Linguística de texto. Análise Textual dos Discursos. Lógica Natural. Representações textual-discursivas. “J’Accuse!” (Émile Zola).
Esta dissertação apresenta uma análise textual ̶ com foco no nível semântico ̶ do texto J’Accuse...! (Eu Acuso...!), carta aberta publicada pelo romancista francês Émile Zola na primeira página do jornal parisiense L’Aurore, em 13 de janeiro de 1898. A carta aberta, endereçada ao então presidente da Franca, Félix Faure, constitui um dos eventos mais dramáticos e de maiores consequências do famoso “caso Dreyfus”.
Tem-se por objetivo principal analisar a construção das representações textual-discursivas (Rtd) ̶ entendidas como construções linguísticas de participantes e eventos ̶ de duas das principais figuras de J’Accuse...!: o capitão Dreyfus e o comandante Esterhazy, os quais polarizam a crônica do “caso Dreyfus". Complementarmente, verificar-se-á o valor argumentativo dessas representações ao selecionar aspectos que direcionam a interpretação do texto.
Justifica-se essa análise pela relevância histórica desse texto, na sociedade e na cultura francófonas. Ainda, trata-se de um texto importante para a perspectiva teórica adotada ̶ a Análise Textual dos Discursos ̶ na medida em que é utilizado em Adam (2011) para ilustrar as categorias da Análise de Discurso, da Análise Textual, bem como de suas relações com a Comunicação, com a História, com a Sociologia, com a Política, com o Direito e ainda quanto a empatia e curiosidade pessoal. Por outro lado, abre a possibilidade de prestarem-se contribuições para o estudo linguístico das representações textual-discursivas em textos que podem ser do interesse de outras áreas do conhecimento, como as aqui já citadas.
Os procedimentos de análise serão os seguintes:
Categorias a serem utilizadas na análise:
A seguir, resultados quantitativos que auxiliam na interpretação das representações textual-discursivas, mas que são, obviamente, insuficientes:
A interpretação qualitativa dessas quantificações deve levar em conta essas distribuições, ainda que elas possam estar sujeitas e correções. Com efeito, o quantitativo só pode se dar a partir da definição qualitativa dos elementos a serem considerados, de sua estrutura. Ou seja, para quantificar teremos, antes, que qualificar.
De forma mais ampla, colocamos a questão de interpretar semanticamente funções gramaticais (p. ex. complemento nominal e adjunto adnominal), entendendo que essa perspectiva deve ser levada em consideração e melhor elaborada.
Nossa pesquisa colocou de forma sistemática funções sintáticas que nos permitiram uma reflexão mais aprofundada sobre alguns aspectos semânticos e que contribuem para a análise textual e a linguística de texto.
No que se refere à “argumentação onipresente”, nas palavras de J.-B. Grize, ela só poderá ser adequadamente caracterizada com um estudo detalhado do léxico concreto utilizado para cada uma das categorias.
Se nos referirmos aos dados do Apêndice teremos, por exemplo, como modificadores da referenciação Dreyfus (nominal e pronominal): {adormecido; desafortunado; devorado; condenado; vitima; imundo; denunciado; ...} o que constrói um campo semântico desfavorável.
Por sua vez, a referenciação nominal anafórica se expressa através de um léxico “negativo”, mas também “emocional” ou, ainda “neutro”: {inocente; acusado; traidor; infeliz; culpado; vítima; oficial de estado-maior; “judeu imundo”;...}.
A pesquisa, coloca e sistematiza alguns procedimentos (marcação textual; análise léxico-gramatical / funções semanticas; representações textual-discursivas no seu valor argumentativo) e apresenta resultados quantitativos e a qualitativos para as representações de Dreyfus e Esterhazy em J'Accuse...!