Taxonomia iterativa de crustáceos troglóbiosdo gênero Potiberaba Fišer, Zagmajster & Ferreira 2013 (Crustacea: Amphipoda) na Caatinga
Mesogammaridae, Crustáceos Subterrâneos, Morfologia, Genética, Formação Jandaíra
Sistemas subterrâneos podem ser encontrados em diversas formações minerais, abrigando uma fauna com diferentes estratégias de vida, que de forma conjunta, podem utilizar o ambiente subterrâneo permanentemente ou temporariamente. Dentre esses habitantes, destacam-se os troglóbios, grupo que reúne organismos que apresentam uma série de adaptações ecológicas, fisiológicas, morfológicas e comportamentais associadas ao ambiente subterrâneo. No Brasil, a fauna troglóbia vem sendo descrita com maior intensidade nas duas últimas décadas, com a prospecção de novos locais e a integração de diferentes ferramentas analíticas. Apesar disso, as regiões Sul e Sudeste ainda se destacam em detrimento das demais, concentrando a maior parte dos estudos taxonômicos, ecológicos e genéticos de organismos troglóbios. No entanto, o Nordeste, em especial o estado do Rio Grande do Norte (RN), vem se destacando no conhecimento dessa fauna, com a descobertas de novas espécies de invertebrados troglóbios, como crustáceos, platelmintos e insetos. Dentre os novos organismos descritos no RN, está o gênero de anfípodes Potiberaba, monotípico e endêmico das cavernas da região, que durante sete anos apresentou distribuição restrita à localidade tipo. Após novas expedições, exemplares foram registrados em mais onze localidades, e cujos dados moleculares indicaram possíveis novas espécies nas cavernas da região. Até então a hipótese se sustentava apenas em delimitações utilizando um marcador mitocondrial. Dessa forma, através de uma abordagem integrada entre ferramentas moleculares (incluindo marcadores nucleares) e morfológicas, o estudo se propôs a avaliar a convergência entre as diferentes informações para sustentar a hipótese de um complexo de espécies, assim como identificar caracteres morfológicos capazes de distingui-las, e ao final, propor a descrição das novas espécies de Potiberaba. Através de uma abordagem iterativa entre informações morfológicas e marcadores moleculares (cox1 e 28S), o estudo propõe a existência de cinco espécies alopátricas, das quais quatro apresentam distribuição restrita, com baixa diversidade genética e morfológica, enquanto P. porakuara é amplamente encontrada no sul da Formação Jandaíra. O estudo também indicou que além das divergências genéticas, as linhagens podem ser identificadas através de caracteres morfológicos com alta taxa de acerto, evidenciando que a riqueza de espécies dessa formação está subestimada.