Filogeografia de artrópodes troglóbios do oeste da formação Jandaíra, nordeste do Brasil: evolução e conectividade biológica em ambientes subterrâneos como base para ações de conservação
Cavernas, Caatinga, Código de barras de DNA, Delimitação de linhagens, Espécies ameaçadas, Avaliação de estado de conservação.
Cavernas sempre despertaram a curiosidade em função dos troglóbios, organismos exclusivamente subterrâneos que frequentemente apresentam distribuição restrita e elevados níveis de endemismo. Eventos paleoclimáticos têm sido apontados como os principais responsáveis pela origem de espécies troglóbias, e o oeste da formação Jandaíra, nordeste do Brasil, alia a ocorrência de extensas áreas cársticas, enorme concentração de cavernas e aquíferos subterrâneos em uma região atualmente semiárida e com histórico de mudanças paleoclimáticas (incluindo transgressões e regressões oceânicas). Esta região é reconhecida pela riqueza e concentração de espécies troglóbias, algumas das quais (isópodes, anfípodes e hemípteros) possuem distribuição relativamente ampla em áreas geológica e hidrologicamente distintas. Por meio de análises filogenéticas e filogeográficas, objetivamos avaliar os padrões de variação genética destes táxons, investigar possível diversidade críptica e delimitar Unidades Taxonômicas Operacionais (UTO´s), bem como indicar os fatores que possivelmente influenciaram sua diversificação. Além disso, objetivamos avaliar o estado de conservação de cada uma das linhagens e identificar áreas prioritárias para sua conservação. Com exceção de Cirolanidae sp.1, os demais grupos apresentaram extensa diversidade de linhagens crípticas e além da identificação de três UTO´s para Cirolanidae sp.2 e cinco para Potiberaba, K. troglobia provavelmente consiste em um complexo com outras seis espécies crípticas, distribuídas de acordo com as microbacias (táxons aquáticos) e lajedos (Kinnapotiguara). Somente uma pequena parcela das linhagens encontra-se em áreas protegidas, enquanto a maioria ocorre em áreas expostas a diversas ameaças antrópicas e podem ser consideradas ameaçadas de extinção: Cirolanidae sp.1 foi categorizada como Vulnerável, enquanto Cirolanidae sp.2 possui uma linhagem Menos Preocupante (LC) e duas Criticamente Ameaçadas (CR). Para Potiberaba, há duas linhagens LC, uma Em Perigo (EN, P. porakuara) e duas CR, e, para Kinnapotiguara, há quatro linhagens EN e três CR (incluindo K. troglobia). Foram identificadas duas áreas prioritárias para conservação destas linhagens, com destaque para a região da microbacia do riacho do Abreu e lajedo do Rosário, em Felipe Guerra/RN, que abriga metade (oito, sendo seis endêmicas) das linhagens identificadas. O lajedo do Rosário pode ser considerado um hotspot de biodiversidade subterrânea.