ENTRE PROVAS E NARRATIVAS: A POLÍTICA (PÚBLICA) CRIMINAL DE DROGAS NO RIO GRANDE DO NORTE
Política criminal; Política de drogas; Sistema de justiça criminal; Poder discricionário; Uso da prova.
Este estudo investiga como provas e narrativas são utilizadas no processamento de crimes de tráfico de drogas no Rio Grande do Norte, analisando a política criminal de drogas como uma política pública implementada por diversos atores estatais. Tendo como plano de fundo o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (Sisnad), estabelecido pela Lei 11.343/2006, o trabalho examina as práticas de policiais, delegados, promotores e juízes, que, munidos de “significativos espaços de manobra decisória” (Muniz, 1999), empregam esses elementos em suas rotinas decisórias. Por meio da análise documental de processos criminais e da observação de audiências de sentenciamento em Natal/RN, a pesquisa demonstrou certa centralidade das narrativas e documentação policiais no fluxo processual, as formas de exercício discricionário pelos diferentes atores do sistema e a hierarquização probatória que privilegia certos tipos de evidências em detrimento de outras. Os resultados revelam os mecanismos operacionais da burocracia judicial e suas implicações para a política criminal de drogas, destacando como as escolhas dos operadores do direito, baseadas em seus espaços decisórios, performam os resultados da política de drogas e do sistema de justiça criminal. O estudo oferece, assim, uma compreensão crítica dos procedimentos e epistemologias dos (des)usos de provas e dos espaços de discricionariedade de diferentes atores que estão relacionados de forma interdependente na política pública criminal de drogas. Com isso, procurou-se compreender sobre um dos aspectos da lógica de funcionamento da burocracia do sistema de justiça criminal e fornecer subsídios para reflexões sobre o aprimoramento das práticas judiciais e policiais no contexto da política de drogas brasileira.