Dia: 15 de junho de 2012
Horário: 14h ás 17hs
Local: Instituto do Cérebro da UFRN (ICe - Av. Nascimento de Castro, 2155 - Natal, RN)
Telefone: 84 3215-2709
e-mail: contato@neuro.ufrn.br
Promoção: Pós-Graduação em Neurociências da UFRN (PGNeuro) e Instituto do Cérebro da UFRN (ICe)
Apoio: Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos – NEIP
(www.neip.info) e bialabate.net
Apresentações:
A Ayahuasca em um Contexto Global: Controvérsias, Debate Público e Regulamentação
Beatriz Caiuby Labate
Esta apresentação trata da internacionalização da ayahuasca. Nos últimos 20 anos, seu uso espalhou-se para além do mundo amazônico e isto tem sido acompanhado de grande controvérsia. Esta apresentação analisará o debate público a respeito da expansão do uso desta substância. Focalizará as discussões na mídia e na sociedade sobre a legalização, a liberdade religiosa, a diversidade cultural e os riscos à saúde. Esta análise utiliza trabalho de campo etnográfico nos
principais novos contextos do uso desta substância, tais como o turismo da ayahuasca no Peru e a expansão das religiões ayahuasqueiras brasileiras – o Santo Daime e a União do Vegetal – em todo o mundo.
Reflexões para uma agenda de pesquisas biomédicas no campo da ayahuasca
Luís Fernando Tófoli
A pesquisa biomédica é uma entre as diversas vertentes do campo de estudos interdisciplinar da ayahuasca. A interpretação dos resultados biomédicos nesse campo geralmente tende para um viés positivo, e aponta para uma considerável segurança no uso desta decocção com propriedades psicodélicas, desde que alguns cuidados sejam tomados.
Ainda que a pouca evidência de danos maiores aos consumidores regulares de ayahuasca possa ter tido um papel em não obstar a institucionalização deste psicoativo nos países onde seu uso foi regulamentado, é provável que valores políticos ou socioculturais tenham tido peso majoritário nas tomadas de decisão em diversos destes cenários, tal como foi o caso no Brasil. Entretanto, por outro lado, o conjunto de achados biomédicos sobre o consumo da ayahuasca é
interpretado de forma cética por aqueles que ressaltam não haver absoluta ausência de risco à saúde neste consumo. Embora a suposta imparcialidade das biociências seja uma ficção, e a interpretação dos resultados das pesquisas científicas esteja condicionada a determinadas visões de mundo, algumas questões demandam mais evidências biomédicas. Baseada na análise da literatura científica e na experiência anedótica do autor com a ayahuasca, esta apresentação
visa a discutir e apontar alguns caminhos com potencial de desenvolvimento da pesquisa biomédica no campo da ayahuasca. Espera-se assim contribuir para a resolução de alguns dilemas presentes no universo biomédico ayahuasqueiro, tais como: o uso por grávidas, crianças e adolescentes; interações com medicamentos; e efeitos positivos em transtornos mentais comuns e no uso problemático de substâncias, entre outros.
Reflexões sobre o estado da arte da pesquisa em neurociências sobre a ayahuasca no Brasil: A experiência do Instituto do Cérebro
Dráulio Barros de Araújo
Esta apresentação será focada sobre a nossa experiência de investigação dos aspectos que envolvem a combinação Ayahuasca e Neurociências. Apesar do grande o número de estudos existentes sobre a Ayahuasca, a maioria se concentra em aspectos farmacológicos e antropológicos. Apenas recentemente, começaram a surgir pesquisas focando no entendimento das alterações cognitivas induzidas pela ingestão da Ayahuasca em particular pela utilização de técnicas de
neuroimagem. Entre as técnicas de neuroimagem funcional, cabe destaque para a ressonância magnética funcional (do inglês, functional Magnetic Resonance Imaging – fMRI), que tem sido largamente utilizada em diversos estudos sobre as bases neurais da percepção, cognição e emoção. Baseado nessa técnica, temos iniciado uma série de estudos que buscam melhor entender as bases neurofisiológicas das complexas alterações induzidas pela Ayahuasca, dentre as quais destacamos as experiências visuais e de interocepção. Além do cenário atual daremos destaque às perspectivas de estudos nessa área pelo nosso grupo.
Sobre os autores:
Beatriz Caiuby Labate (Bia Labate) é Doutora em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP. Suas principais áreas de interesse são o estudo de substâncias psicoativas, políticas sobre drogas, xamanismo, ritual e religião. Desde 2009, é Pesquisadora Associada do Instituto de Psicologia Médica da Universidade de
Heidelberg. É também pesquisadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos (NEIP) e editora de seu site (http://www.neip.info). É autora, coautora e coeditora de oito livros, dois deles com traduções em inglês, e de uma edição especial de um journal acadêmico. Seu livro A Reinvenção do Uso da Ayahuasca nos Centros Urbanos (Mercado de Letras, 2004) é o resultado de sua Dissertação de Mestrado em Antropologia Social pela UNICAMP, a qual
recebeu em 2001 o prêmio de Melhor Dissertação de Mestrado da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais - ANPOCS. Para mais informações ver: http://bialabate.net
Luís Fernando Farah de Tófoli Possui graduação em Medicina pela Universidade de São Paulo (1996), residência médica em Psiquiatria (2000) pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Universidade de São Paulo e doutorado em Medicina (Psiquiatria) pela Universidade de São Paulo (2004). Atualmente é professor adjunto da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (Campus Sobral), onde trabalha no Curso
de Medicina desde 2002 e no Programa de Pós-Graduação em Saúde da Família (Mestrado Acadêmico em Saúde da Família) desde 2009. Tem experiência na área de Saúde Mental, atuando principalmente nos seguintes temas: saúde mental em atenção primária, atenção psicossocial, e sintomas físicos inexplicáveis.
Dráulio Barros de Araújo concluiu o doutorado em Física Aplicada à Medicina e Biologia pela Universidade de São Paulo (Campus de Ribeirão Preto) em 2002. Em seguida realizou seu pós-doutoramento em Neuroimagem Funcional e obteve o título de livre docência pela mesma universidade, onde foi professor até 2009. Professor Titular do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), atualmente é Coordenador da Pós-Graduação em Neurociências da UFRN. Atua na área de Neurociências, com ênfase na utilização da Neuroimagem Funcional, mais especificamente da Ressonância Magnética Funcional (RMf), Magnetoencefalografia (MEG) e Eletrocenfalografia
(EEG), em diferentes campos das neurociências.
Coordenação do Debate: Sidarta Ribeiro
Bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade de Brasília (1993), Mestre em Biofísica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1994), Doutor em Neurociências e Comportamento Animal pela Universidade Rockefeller (2000) com Pós-Doutorado em Neurofisiologia pela Universidade Duke (2005). Professor Titular e Diretor do Instituto do Cérebro da UFRN. Tem experiência na área de neuroetologia, neurobiologia molecular e neurofisiologia, atuando principalmente nos temas: "sono, sonho e memória", "genes imediatos e plasticidade neuronal", "comunicação vocal " e "competência simbólica em animais não-humanos". Tem grande interesse no estudo das bases neurais da consciência e de suas alterações. Tem se envolvido no debate público sobre os usos medicinais e legalização da Cannabis no Brasil.
Lançamento do Livro “The Internationalization of Ayahuasca”,
organizado por Beatriz Labate e Henrik Jungaberle (Lit Verlag, 2011)
Resumo:
A Internacionalização da Ayahuasca compõe-se de 27 artigos (quase 500 páginas) e divide-se em três partes: “A Ayahuasca na América do Sul e no mundo”, “Temas médicos, psicológicos e farmacológicos: o uso da ayahuasca é seguro?” e “A expansão do uso da Ayahuasca e o estabelecimento de um debate mundial a respeito da ética e da
legalização”. O livro reúne o trabalho de estudiosos de diferentes países e de diferentes disciplinas acadêmicas, oferecendo uma visão abrangente da globalização desta bebida amazônica. Apresenta um rico panorama de reflexões sobre as complexas implicações desta expansão, incluindo desde impactos sobre a saúde, a espiritualidade e os direitos humanos individuais até impactos legais e políticas governamentais. À medida que o consumo da ayahuasca torna-se uma prática cada vez mais estabelecida para além da Amazônia neste início do século 21, Labate e Jungaberle reuniram uma coleção que representa uma contribuição inédita a um campo de pesquisa em expansão. É leitura obrigatória para as pessoas interessadas no presente e futuro da ayahuasca, bem como na espiritualidade, na etnobotânica, na teoria das ciências sociais, nos estudos contemporâneos sobre religião e rituais, nos potenciais terapêuticos dos psicodélicos e nas políticas internacionais sobre drogas. (Kenneth W. Tupper, Ph.D.)
Sumário do livro:
http://www.bialabate.net/books/table-of-contents-internationalization-ayahuasca