PROLEGÔMENOS PARA UMA HISTÓRIA PÓS-SOCIAL DAS PRÁTICAS EPIDEMIOLÓGICAS EM NATAL: (1892-1930)
história e espaços, epidemiologia, estudos da ciência e tecnologia.
O seguinte trabalho se propõe a abordar algumas concepções das práticas epidemiológicas em Natal do final do século XIX e primeiras décadas do século XX. Muito embora tenhamos nos concentrado em princípios epidemiológicos, especialmente no âmbito do higienismo e da geografia médica, será indispensável abranger algumas práticas emergentes em meados do século XIX, que definiriam importantes parâmetros da chamada medicina moderna, como fisiologia patológica, microbiologia, e microparasitismo. As práticas epidemiológicas ligam-se forçosamente ao estudo dos espaços, pois as mesmas abordam a distribuição das doenças de maneira articulada à tríade tempos-lugares-pessoas; definindo, portanto, determinados parâmetros específicos de espacialidade de acordo com as teorias que definem a dinâmica dessas relações. Durante o período estudado, diversas transformações na compreensão entre espaços, corpos e doenças ocorreram e influenciaram o conhecimento epidemiológico, tanto pelo advento da microbiologia no estudo das doenças, quanto com a emergência da anatomopatologia como um dos principais eixos do conhecimento médico. Nesse período, em Natal, teremos tanto em documentos oficiais ligados à saúde pública, quanto em jornais e outros relatos, referências e inquietações nas maneiras de se entender a relação entre corpo doença e espaço de acordo com os parâmetros do saber médico, e também, mudanças com a introdução de novas práticas. A partir desses elementos, relacionando-os a diversos conceitos discutidos no tratamento do espaço nas teorias epidemiológicas, vamos abordar algumas questões relativas às maneiras de se espacializar os lugares, corpos e doenças dentro do conhecimento médico do período. Nossa problematização sobre os espaços nesse tema será principalmente apoiada nas contribuições de Michel Serres, nos conceitos ligados aos pesquisadores dos estudos da ciência e tecnologia, John Law e Bruno Latour, bem como na proposta “pós-social” de Karin Knorr Cetina. Esse suporte será valioso na medida em que critica alguns conceitos da constituição das ciências modernas e algumas concepções espacializantes que herdamos das mesmas, a exemplo da cristalização de abordagens que dividem natureza e sociedade em pólos radicalmente apartados.