"OS NEGROS FAZEM A SUA ESTREIA”: A IRMANDADE DO ROSÁRIO E A CONSTRUÇÃO DOS ESPAÇOS SAGRADOS NA FREGUESIA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO (1885-1930).
Na Província do Rio Grande do Norte, no ano de 1885, foi oficializada a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário da cidade de Jardim na Freguesia de Nossa senhora da Conceição, espaço de administração eclesiástica que compreendeu o município da Cidade de Jardim, que depois e até os dias de hoje tem o nome de Jardim do Seridó/RN. Esse trabalho teve como objetivo analisar o processo da construção dos espaços sagrados pelos Negros do Rosário na Freguesia de Nossa senhora da Conceição entre os anos de 1885 e 1930. Para o constructo dessa dissertação, foi imprescindível reunir uma base de dados em fontes impressas, escritas e orais que foram previamente autorizadas pelos responsáveis dos arquivos e pelos depoentes e foram elas os Livro de atas, Medidas e Resoluções (1885-1944), Livro de Receitas e Despesas da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário (1919-1949) e o Livro de Tombo 1, a Lei Provincial nº 951, do dia 16 de abril de 1885 e as entrevistas concedidas pelos atuais Negros do Rosário das famílias do “povo da Boa Vista” e “Caçotes” durante a Festa do Rosário 2019/2020. Para a análise das fontes escritas e impressas foi utilizado o método onomástico, preconizado por Ginzburg e para a análise das fontes orais foi aplicada a metodologia da história oral e o método regressivo. de Marc Bloch (2001). No tempo sagrado da festa em devoção à Nossa Senhora do Rosário, as famílias de várias condições e qualidades que integraram o grupo que constituiu a Irmandade do Rosário na freguesia, se direcionavam ao núcleo urbano abrangido por esse espaço. Dessa forma, para o referencial teórico deste estudo, operacionalizamos com a categoria espacial de hierópolis, postulado pela geógrafa Zeny Rosendahl (2018). Nesse sentido, esse espaço era constituído por espaços sagrados e profanos, engendrados pelas hierofanias (o ato sagrado manifestado na raiz) dos Negros do Rosário, como por exemplo, a “Dança do Espontão” (ou pulo), as procissões e os rituais de coroação. Nesse período, o catolicismo praticado em território nacional estava afastado do catolicismo pregado por Roma. Dessa forma, no país, para ocorrer essa aproximação do catolicismo praticado no território dos ditames do tridentino, ocorreu o processo da reforma devocional católica, que constituiu em uma reforma no clero, no culto, na liturgia e na reordenação de devoções do catolicismo praticado no Brasil. Foi nesse contexto que o processo da construção dos espaços sagrados por esses agentes, foi desenvolvido.