CANTOS E RECANTOS DE SAUDADE DA TERRA NATAL: A CONSTRUÇÃO SONORA DO NORDESTE NA OBRA DE LUIZ GONZAGA (1941-1968)
Luiz Gonzaga; Nordeste; Rádio; Regime de audibilidade; Paisagem Sonora
O presente trabalho dedica-se a analisar o movimento de construção de uma dada sonoridade atrelada à região Nordeste e materializada na obra de Luiz Gonzaga, no período que vai de 1941 até 1968. Partindo do pressuposto que os espaços são construções históricas cujos aspectos, configurações e matérias de expressão podem ser verificadas, entre outras dimensões, na linguagem, o que se busca aqui é compreender as condições históricas de possibilidade de um regime de audibilidade nordestino veiculado na produção musical e trajetória artística de Luiz Gonzaga, através de sua atuação no rádio, na indústria fonográfica, e da construção discursiva presente em revistas, jornais e biografias que o situam como espécie de “porta-voz” da região Nordeste. Mobilizando conceitos como paisagem sonora, escuta e desterritorialização, neste trabalho os enunciados tradicionalmente ligados ao Nordeste mobilizados na obra do sanfoneiro serão associados às condições materiais de produção do cancioneiro gonzagueano, que no recorte proposto estão ligadas ao ambiente urbano e ao desenvolvimento da indústria fonográfica e do universo radiofônico do Rio de Janeiro, de modo a situar o projeto estético-musical desenvolvido pelo artista no trânsito, no choque entre os elementos que compõem essas duas espacialidades díspares: a primeira sobre a qual grande parte de sua obra fala e a segunda na qual se deu a consecução material do baião e de outros gêneros com os quais o artista compôs, para além de um regime de visibilidade e dizibilidade, um regime de audibilidade, uma escuta da região.