“PRECES PARA DISPOR A BEM MORRER”: HIGIENISMO, CONSTRUÇÃO DO CEMITÉRIO E OS RITOS FÚNEBRES NA POVOAÇÃO DE CONCEIÇÃO DO AZEVEDO (1850-1904)
Palavras-chave: Higienismo; Cemitério; Morte; Ritos Fúnebres; Jardim do Seridó.
O presente trabalho analisa, a partir das falas e relatórios dos presidentes de província, como se deram os discursos médicos e higienistas na segunda metade do século XIX, no interior da província do Rio Grande do Norte. Foram analisados os fatores que levaram à construção do cemitério público da povoação de Conceição do Azevedo, atualmente Jardim do Seridó, município localizado no interior do Rio Grande do Norte, e como esses fatores implicaram nas mudanças culturais fúnebres e os processos sociais da percepção da morte e do morrer. O cemitério discutido na referida pesquisa continua sendo utilizado desde 1858, quando sua construção foi feita em terreno doado pelo senhor Antonio de Azevedo Maia (3º), juntamente com sua esposa Úrsula Leite de Oliveira. A benção litúrgica do cemitério se deu no dia 12 de março de 1858, pelo Padre Francisco Justino Pereira de Brito. A influência do Estado e dos clérigos nas construções de cemitérios extramuros no país foram questões pensadas como relação entre poderes políticos e religiosos a respeito dos discursos higienistas e os espaços da morte, no século XIX. Partindo do pressuposto que o cemitério é a parte integrante de toda cidade, uma vez que para se pensar planos de urbanização para a cidade deve-se ter em mente o lugar para onde vão as pessoas que têm seu destino final, o propósito inserido a esse estudo é buscar entender qual a relação entre a cidade dos mortos e a cidade dos vivos, diante dos ritos fúnebres vividos pelas pessoas, pensando até que ponto a morte era um ocorrido terrível para a época, tendo em vista o número de mortos que ocorriam devido às doenças que assolavam o Seridó, na segunda metade do século XIX. O período compreende o surto de cólera e a morte de crianças entre 0 e 4 anos, causadas por variadas doenças. Compreender como as doenças atacavam a região também faz pensar a respeito da atenção dada ao interior de um estado, cujas falas dos representantes políticos muitas vezes mostravam espaço saudáveis e controláveis. Com isso, não se trata apenas da construção do cemitério, nem tão pouco das mudanças nos ritos de morte, pois estes fatores são mostrados pela historiografia há um tempo, mas sim, pensar a respeito de como os políticos reagiam diante de higiene pública no sertão do Rio Grande do Norte, assim como a forma que as pessoas da Vila de Jardim passaram a reagir diante da morte e do morrer. Os estudos foram realizados por meio dos livros de óbito, leis, decretos municipais, testamentos e códigos de posturas.