ENTRE CORPOS E ESPAÇOS: UMA HISTÓRIA DA CRIMINALIDADE NA MATA DE ARAUCÁRIAS (MALLET-PR, 1930-1950)
Palavras-Chave: Cartografia; Corpo; Criminalidade; Espaço; Processos Criminais.
RESUMO
Este trabalho busca analisar as relações entre o corpo e o espaço nos crimes ocorridos no município de Mallet, localizado nas matas de araucárias do estado do Paraná. O objetivo principal é estudar o fenômeno da criminalidade que se intensificou a partir da década de 1930 tendo os corpos como a superfície atingida pelos conflitos. Desde 1890, o território onde se desenvolveu Mallet constituiu-se como um importante foco da colonização europeia no Paraná, principalmente de povos eslavos, como ucranianos e poloneses, imigrantes estes que formavam um dos principais contingentes populacionais que se estabeleceu no sul do Brasil. Em um município caracterizado pelos contatos e interações entre os imigrantes e a população cabocla que ocupou anteriormente as matas de araucárias, os espaços de Mallet foram produzidos e cartografados por tensões, desavenças e conflitos que inscreviam seus efeitos nos corpos dos seus diferentes habitantes. Tendo os processos criminais do Poder Judiciário de Mallet como o principal suporte documental, pretendemos investigar a criminalidade que emergiu a partir de 1930 buscando compreender quais as relações que os corpos estabeleceram com os espaços naquele município; de que modo os conflitos estiveram ligados com as singularidades dos seus moradores; e em que medida o judiciário agiu para centralizar e racionalizar os crimes, os corpos por eles atingidos e seus espaços de ocorrência. Utilizando-se da cartografia como conceito a ser instrumentalizado neste estudo, objetivamos compreender os diferentes fluxos, devires e movimentos corporais que produziram os espaços e os crimes ocorridos nas matas de araucárias, onde se situava Mallet. No que concerne aos aspectos metodológicos, optamos pelo uso da história serial para analisar as mudanças nas tensões e conflitos, os padrões recorrentes, as descontinuidades e permanências na documentação jurídica entre os anos de 1930 a 1950. Por fim, tendo a criminalidade como objeto de estudo, esta pesquisa busca colocar o corpo no centro da narrativa historiográfica; corpos que em suas sensibilidades, gritos e carnes tornaram-se as superfícies de inscrição dos acontecimentos.