A cidade como altar: discursos, templo e a festa de Nossa Senhora da Apresentação na produção de identidade para a cidade de Natal, 1910 - 1939.
lugar, festa da Apresentação, Matriz.
Realizamos uma análise acerca da relação entre catolicismo e cidade de Natal (RN) na primeira metade do século XX, período no qual o Brasil vivera um momento histórico marcado pela consolidação de um novo sistema político e expansão urbana como aconteceu em Natal. A presente pesquisa analisa a relação entre práticas discursivas católicas e o lugar Natal nos anos de 1910-1939. Nesse sentido, refletimos se a festa de Nossa Senhora da Apresentação, a padroeira da cidade, e a Matriz representada como monumento foram práticas produtoras da cidade? Quais sentidos foram imaginados? Objetivamos neste estudo analisar a associação imbrincada entre instituição religiosa, crença e lugar a partir da conjuntura histórica na qual o Brasil passava por um momento de efervescência social e cujos princípios trazidos pela modernidade não nasceram do catolicismo. De tal modo, buscamos compreender a reação da Igreja Católica frente a esse novo momento histórico através do uso do simbolismo da padroeira, de marcos memorias, cortejos sagrados, sensibilização e construção de uma característica para a cidade por meio da fé católica. As respostas para as nossas questões foram encontradas nos discursos presentes nas páginas dos periódicos A República, 1910-1939, A Ordem, 1935-1939, e o capítulo A Matriz de Natal escrito pelo potiguar Nestor dos Santos Lima na revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte. Buscamos nos escritos do italiano Giulio Argan o entendimento de que as cidades são frutos da materialidade arquitetônica, da relação com a natureza, da vivência humana transformadora. As ideias de Michel Foucault sobre discurso, Doreen Massey sobre espaço e lugar, Fredrik Barth quanto a identidade, Aleida Assmann sobre o local de recordação representam o referencial teórico adotado. Também foi muito importante para este trabalho a pesquisa a respeito da festa no Brasil Colonial desenvolvida por Mary Del Priore, a construção/uso de espaços religiosos públicos e privados por Sérgio Chahon, Luís da Câmara Cascudo e a sua leitura histórica sobre a cidade que consiste no nosso objeto, Denise Monteiro e a história do Rio Grande do Norte, a história da cidade de Natal nas pesquisas coordenadas por Raimundo Arrais e Angela Ferreira. Em suma, problematizamos uma relação traçada entre religiosidade e cidade. Pretendemos com esta pesquisa contribuir para o conhecimento das trajetórias de formação da cidade de Natal no início do século XX.