Entre rios e ruas: água, açude e tragédia em uma cidade do Agreste potiguar (Santa Cruz, 1º de abril de 1981).
Cidade, Enchente, Natureza, Açude.
Na noite do dia primeiro de abril de 1981, a cidade de Santa Cruz foi tomada por uma inundação que destruiu o sangradouro do açude Santa Cruz e de boa parte da cidade, fazendo com que a população das áreas mais baixas abandonasse suas casas. Residências e ruas mais próximas ao açude, ao rio Trairi e ao riacho do Pecado foram totalmente afetadas, sendo muitas das casas e prédios públicos completamente destruídos. Localizada no interior do estado do Rio Grande do Norte, a cidade de Santa Cruz é marcada por um clima muito quente e semiárido. Com uma média de precipitação pluviométrica normal de 498.7 mm ao ano, a cidade é acometida pelas secas desde o início de sua fundação, por volta do ano de 1831. Para que seu desenvolvimento tivesse continuidade, foi necessário que a população efetivasse diversas intervenções no meio natural, principalmente no que diz respeito ao armazenamento e à distribuição de água. Tendo em vista o processo de ocupação do espaço em questão, bem como as relações que os grupos humanos estabelecem com o meio natural, temos como objetivo analisar de que forma as intervenções humanas afetam o ambiente ao seu redor, modificando-o de forma a atender as suas necessidades e interesses. Desse modo, pretendemos compreender de que modo a cobertura jornalística possibilitou a construção de um quadro da tragédia. Pretendemos ainda observar como a ocupação de Santa Cruz levou à modificação de seu entorno, buscando discutir os efeitos das intervenções humanas sobre os desastres naturais. Dentre as fontes de pesquisa, destacamos os jornais A República, o Diário de Natal, a Tribuna do Norte, O Poti e a Folha de São Paulo, bem como entrevistas com o então prefeito da cidade de Santa Cruz, Hildebrando Teixeira de Souza, e com o casal José Henrique de Pontes e Severina Águida de Pontes, cuja casa foi atingida pela enchente. Também analisaremos mensagens do governo do estado, atas da câmara de vereadores de Santa Cruz e relatórios produzidos pelo DNOCS sobre a construção do açude e sua vistoria após a enchente.