DESVENTURAS DE HYPOLITA: LUTA CONTRA A ESCRAVIDÃO ILEGÍTIMA NO SERTÃO (CRATO E EXU, SÉCULO XIX)
Escravidão; Ação de liberdade; Mulher; Crato; Exu.
Este trabalho analisa a história de Hypolita Maria das Dores, mulata que nasceu livre, foi escravizada e, por meio de uma ação de liberdade, recorreu à justiça para provar a ilegitimidade de seu cativeiro e recuperar a sua liberdade e de seus filhos. Os cenários principais dessa luta social e jurídica são Crato (Ceará) e Exu (Pernambuco), lugares em que ela viveu, no século XIX. O principal objetivo deste trabalho consiste em compreender como se estabeleceram as tensões e alianças que envolveram a luta pela liberdade dentro e fora da instância jurídica, em espaços provinciais diferenciados. Numa abordagem que se insere no campo da história social da escravidão, priorizaremos a narrativa de vida. Nela, Hypolita é tomada como sujeito de sua história, pois enfrenta valores senhoriais e patriarcalistas de uma sociedade escravocrata. O corpus documental que permite tal verticalização investigativa é formado por documentos paroquiais em que examinamos os registros de batismos, casamentos e óbitos; documentos cartoriais em que analisamos inventários post-mortem, petições e ofícios; relatórios dos presidentes de província e, finalmente, as informações jornalísticas d’O Araripe. A investigação do caso permitiu a compreensão de como, em espaço e tempo específicos, a liberdade foi entendida, usurpada e reivindicada por vários sujeitos sociais nas tramas dos costumes e da justiça institucionalizada.