Efeitos do treinamento muscular inspiratório não-supervisionado sobre a variabilidade da ventilação em indivíduos pós-covid-19: ensaio clínico randomizado duplo cego.
Treinamento muscular inspiratório; variabilidade ventilatória, pós-covid-19.
Introdução: A análise da variabilidade ventilatória do exercício ainda é pouco utilizada em pacientes pós-COVID-19, mas pode fornecer dados importantes dessa população. Em um estudo com essa população o padrão ventilatório durante o exercício revelou disfunção respiratória e oscilações ventilatórias ao longo do tempo. Objetivos: Avaliar os efeitos de um protocolo de treinamento muscular inspiratório (TMI) não-supervisionado sobre o comportamento da variabilidade ventilatória, força muscular respiratória, função pulmonar, qualidade de vida, capacidade funcional, nível de atividade física e efeitos adversos. Métodos: ensaio clínico, randomizado, controlado e duplo-cego, realizado no Laboratório de Medidas e Avaliação em Saúde (LABMAS), Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Foram recrutados sujeitos de ambos os sexos, na faixa etária acima de 18 anos, com diagnóstico confirmado de COVID-19. Os sujeitos incluídos na pesquisa passaram por dois momentos de avaliações: pré-treinamento (Inicial) e pós-treinamento (6 semanas). As avaliações incluíram a anamnese e exame físico, com aferição dos sinais vitais, medidas antropométricas, espirometria, força muscular respiratória, capacidade funcional, análise da variabilidade ventilatória, qualidade de vida, nível de atividade física e efeitos adversos. Após a avaliação inicial, todos os voluntários receberam um aparelho POWERbreathe® classic light resistance (POWERbreathe®, Nsc, Brasil), para realização do treinamento, e foram orientados individualmente sobre como utilizá-lo e sobre a realização do protocolo. Protocolo experimental: carga de 30% do valor total da PImáx, com um reajuste de carga semanal de 10% da PImáx. As sessões foram compostas de 30 repetições, 4 vezes ao dia, 2 séries pela manhã e duas à tarde, com intervalo de um minuto entre as séries, 7 dias consecutivos na semana, durante 6 semanas. O grupo controle foi submetido ao mesmo protocolo sem carga.
Resultados: 86 participantes foram elegíveis para a participação no estudo. 26 participantes completaram o teste pós-intervenção e foram incluídos na análise. A ANOVA de medidas repetidas mostrou que houve diferença estatisticamente significativa entre as médias da variabilidade ventilatória no momento pré e pós intervenção [F(1,0; 24)=5,34, p=0,03]. As diferenças entre os escores médios de CVF [F(1,0, 23,00)= 0,660; p=0,425], VEF1 [F(1,0;23)=2,06, p=0,164], VEF1/CVF [F(1,0; 23)=2,41, p=0,134], não foram estatisticamente significativas no momento pré e pós intervenção.
Houve diferença estatisticamente significativa entre as médias da PImáx [F(1,0; 24)=11,372, p=0,003] no momento pré e pós intervenção. Não houve diferença estatisticamente significativa entre as médias de PEmáx [F(1,0; 24)=1,90, p=0,181], assim como entre as médias do teste do degrau [F(1,0; 24)=0,80, p=0,780]. Para o questionário de qualidade de vida a análise mostrou que houve diferença estatisticamente significativa entre as médias dos domínios capacidade funcional no momento pré e pós intervenção [F(1,0; 24)=4,357, p=0,048] e aspectos físicos [F(1,0; 24)=10,646, p=0,003], respectivamente. No entanto, o score final de saúde mental [F(1,0; 24)=3,11, p=0,091] e saúde física [F(1,0; 24)=8,96, p=0,006] não mostrou diferença estatisticamente significativa.
Conclusão: O TMI não supervisionado apresentou efeitos positivos na amostra estudada sobre a variabilidade da ventilação, a PImáx e os domínios de capacidade funcional e aspectos físicos do questionário de qualidade de vida e pode representar uma alternativa de tratamento dentro da reabilitação de pacientes pós-covid-19. A interpretação dos dados deve ser realizada com cautela. Algumas limitações do estudo podem ter interferido nos outros resultados avaliados, como o número de participantes, o curto período do protocolo de treinamento e os efeitos de médio e longo prazo que não foram avaliados.