Aerossolterapia em indivíduos obesos com ou sem DPOC: análise do padrão de deposição pulmonar e determinação de fatores preditores
Aerossóis; Terapia Respiratória; Obesidade.
Introdução: A obesidade é responsável por desencadear diversas alterações sistêmicas, aumentar a severidade e a morbidade de patologias existentes. Indivíduos obesos com doenças respiratórias, como a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) apresentam maiores índices de dispneia, piores estados gerais de saúde, maior consumo de medicações e baixa efetividade do uso de medicações inalatórias, comparados a pacientes com peso normal. Até o presente momento, não existe dados na literatura que definam quais seriam os fatores responsáveis pela baixa efetividade no uso desse tipo de medicação na população obesa. Além disso, a possibilidade de implementação da aerossolterapia via cânula nasal de alto fluxo para melhorar o padrão de deposição nessa população ainda não foi descrita.
Objetivos:
1- Analisar a associação entre variáveis anatômicas de vias aéreas superiores de indivíduos obesos saudáveis e o percentual de deposição pulmonar de radiofármaco inalado. Buscar fatores preditores para essa deposição.
2 – Analisar a deposição pulmonar de radiofármaco inalado, via Cânula Nasal de Alto Fluxo (CNAF), em pacientes com DPOC (obesos e não obesos) (artigo em construção)
Método: O estudo foi realizado em duas partes: a primeira parte (estudo 1) foi um ensaio clínico controlado, não randomizado, com indivíduos obesos e não obesos. Foram avaliadas: características antropométricas e anatômicas de vias aéreas superiores (Tomografia Computadorizada e escore Mallampati modificado). Todos voluntários inalaram radiofármaco (99mTc-DTPA; 1mci), com broncodilatador bromidrato de Fenoterol e brometo de ipratrópio, utilizando inalador de membrana (MESH) em respiração tranquila (volume corrente). As comparações de deposição ocorrem entre o grupo obesos e o grupo não obesos. A segunda parte do estudo foi um ensaio clínico to tipo crossover, onde pacientes com DPOC inalaram radiofármaco (99mTc-DTPA; 1mci), com broncodilatador bromidrato de Fenoterol e brometo de ipratrópio em dois dias diferentes (pelo menos dois dias de intervalo entre eles). Em um dia a inalação ocorria de forma simples, utilizando inalador de membrana (MESH), enquanto outro dia a inalação ocorria via CNAF. A sequência da intervenção foi randomizada previamente.
Resultados do estudo 1: Participaram do estudo 17 indivíduos não obesos e 12 obesos. Os voluntários do grupo obeso apresentaram deposição pulmonar 30% menor do que os não obesos (p=0,01; IC 95% 0,51 a 4,91). As variáveis anatômicas referentes à forma das vias aéreas diferiram entre os grupos. O diâmetro anteroposterior da região retroglossal de obesos foi 29% maior (p<0,01; IC 95% -5,44 a -1,1), enquanto o diâmetro lateral foi 42% menor (p=0,03; IC 95% 0,58 a 11,48), comparado aos indivíduos não obesos. A área de secção transversa da região retropalatar e sua relação com a área de secção transversal na região retroglossal também foram menores em obesos (p<0,05). Nenhuma dessas variáveis apresentou correlação com a deposição pulmonar do aerosol inalado. Enquanto isso, o IMC mostrou-se responsável por 32% da variância da deposição pulmonar (p<0,001; β -0,28; IC 95 %-0,43 a -0,11). Quando analisados sob a subdivisão de classes Mallampati modificado, indivíduos obesos classe 4 apresentaram 44% menos deposição pulmonar de radiofármaco inalado do que os não obesos na mesma classificação.
Conclusão do estudo 1: As alterações anatômicas de vias aéreas superiores, decorrentes da obesidade, parecem não interferir na deposição pulmonar mais do que o IMC por si só. Porém, a obesidade associada à classe 4 de Mallampati modificado foi responsável por uma exacerbação da diferença de deposição pulmonar entre obesos e não obesos, podendo ser um fator prejudicial à oferta de medicação inalatória na população obesa.
Resultados do estudo 2: (em construção) Participaram do estudo 11 voluntários com DPOC, quem em formato crossover compuseram os seguintes grupos: Inalação Simples (n=11) e Inalação via CNAF (n=11).