Comportamento e ecologia acústica da baleia jubarte (Megaptera novaeangliae) na região Nordeste do Brasil
comportamento de canto, ecologia acústica, baleia jubarte, ruídos antropogênicos, estoque reprodutivo A, nordeste do Brasil
O conceito de ecologia acústica envolve a relação entre os organismos vivos e o seu ambiente sonoro e é aplicado no presente trabalho para estudar o contexto no qual ocorreu o comportamento de canto da baleia jubarte (Megaptera novaeangliae), considerado o mais complexo comportamento reprodutivo (display) da natureza, na costa nordeste do Brasil, fora da concentração reprodutiva do Banco de Abrolhos, entre os anos de 2005 e 2010. Analiso a ocorrência de machos cantores em diferentes estruturas de grupo, sua distribuição espacial e prováveis relações com fatores oceanográficos, como profundidade, regime de marés e fases da lua. Também descrevo a estrutura acústica e a variação temporal do comportamento de canto, baseado em medições de frequência e tempo dos cantos, fora do Banco de Abrolhos, além de comparar a complexidade do canto, registrada no mesmo período de estudo, entre o Banco de Abrolhos (16°- 19° S, 37°- 39° W), e a Costa Norte adjacente, aqui considerada desde Itacaré (14° S, 38° W) a Aracajú (11° S, 37° W). Ainda busco descrever e analisar as fontes de ruídos antropogênicos no ambiente marinho da área de estudo, produzidos pela atividade de exploração de petroleo e gás e também pelo turismo de observação de baleias, relacionando-os com o nicho acústico utilizado pela jubarte. Os resultados indicaram uma grande plasticidade no comportamento de canto, evidenciado pela ocorrência dos cantores em diversas estruturas sociais, de indivíduos solitários a grupos contendo outros animais, inclusive fêmeas com filhotes, bem como pela diversidade que compõe o canto da espécie, quando comparado entre duas regiões dentro da mesma área de reprodução, como o Banco de Abrolhos e a Costa Norte, que apresenta características oceanográficas distintas. A distribuição dos machos cantores parece estar relacionada com a extensão da plataforma continental na área de estudo. Os ruídos antropogênicos produzidos demonstraram uma faixa de frequências, amplitude sonora e intensidade capazes de interferir acusticamente no comportamento de canto da espécie, podendo resultar em distúrbios durante o período de reprodução da espécie na costa brasileira. Implicações sobre os resultados obtidos na teoria do sistema de acasamento da espécie são discutidas. Dessa forma, pretendo contribuir com o tema da ecologia acustica e gerar informações que subsidiem a conservação da baleia jubarte.