Adolescentes apresentam um atraso de fase no sono relacionado a fatores biológicos e psicossociais, acarretando a um contraste entre hábitos de sono e horários escolares matutinos, que leva à privação e irregularidade de sono, podendo trazer prejuízos à saúde e ao desempenho cognitivo e escolar. A atenção e a memória podem estar entre os processos cognitivos prejudicados. Como fatores relacionados, estão o tempo de deslocamento à escola e o grau de urbanização de onde vivem. Este trabalho visa analisar a relação da duração do deslocamento para a escola, turno escolar e nível de urbanização com o ciclo sono-vigília e o desempenho cognitivo de adolescentes. Participaram do estudo 291 alunos (15,4 ± 0,9 anos; 59,5% mulheres; 242 completaram todas as etapas) de duas unidades de uma escola técnica de nível médio integrado do RN: Natal, região metropolitana, e Lajes, área menos urbanizada. Os hábitos de sono foram avaliados pelos questionários: “A Saúde e o Sono”, O Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh, a Escala pediátrica de sonolência diurna, e diários de sono com Escala de sonolência de Maldonado preenchidos por 10 dias. Nesse intervalo, de terça a sexta-feira, foram aplicadas a Tarefa de Execução Contínua (avaliando atenção) e a Tarefa de Sternberg (memória operacional). Levar mais tempo até a escola esteve associado a acordar (B=-0,66, p<0,001) e deitar mais cedo na semana (B=-0,37; p=0,02) e fim de semana (B=-0,4; p=0,03), ter menor tempo total na cama em 24h na semana (B=-0,31; p=0,04), maiores irregularidades nos horários de acordar (B=0,19; p=0,04), no tempo na cama à noite (B=0,45; p=0,03) e em 24h (B=0,48; p=0,02), pior qualidade do sono (B=0,02; p=0,009) e menor percentual de acertos para memória nas listas de 6 (resposta “sim”) (B=-0,09; p=0,02) e de 5 algarismos (“não”) (B=-0,07; p=0,03). Alunos do turno matutino acordaram (B=-181; p<0,001) e deitaram mais cedo na semana (B=-78; p<0,001) e fim de semana (B=-30; p<0,03), apresentaram menores tempos na cama à noite (B=-101; p<0,001) e em 24h (B=-91; p<0,001) na semana, maiores irregularidades nos horários de acordar (B=39; p<0,001), no tempo na cama à noite (B=118; p<0,001) e em 24h (B=108; p<0,001), maiores níveis de jet lag social (B=31; p<0,001), pior qualidade do sono (B=1,33; p=0,01) e menos acertos para listas de 5 algarismos (“sim”) para memória (B=-8,69; p=0,01). Os indivíduos que residiam na região menos urbanizada acordaram (B=-28; p=0,02) e deitaram mais cedo na semana (B=-48; p<0,001) e fim de semana (B=-28; p=0,05), mostraram maiores tempos na cama em 24h na semana (B=24; p=0,04), menos respostas corretas nas listas de 5 (B=-7,8; p=0,01) e 6 algarismos (“sim”) (B=-7,3; p=0,03) para memória, menores percentuais de respostas corretas no alerta tônico (B=-2,67; p=0,02), fásico (B=-5,16; p=0,04) e atenção seletiva (B=-5,78; p=0,02), porém menor tempo de reação para respostas corretas no alerta fásico (B=-54,81; p=0,01). Dessa forma, confirma-se a hipótese de que a rotina escolar e o grau de urbanização têm impacto sobre os hábitos de sono e a memória operacional em adolescentes, enquanto a atenção teve relação apenas com o grau de urbanização.