Beber para esquecer: neurodegeneração pelo uso do álcool e seus efeitos na memória do peixe Danio rerio.
Etanol. Uso Crônico. Memória de longo prazo. Peixe paulistinha.
A aprendizagem e a consolidação da memória podem ser influenciadas por mudanças fisiológicas e neurológicas causadas por substâncias psicoativas. Dentre estas, o álcool vem sendo bastante investigado por ser a droga lícita de maior consumo mundial e de maior impacto sobre a saúde da sociedade. O consumo de doses elevadas de álcool com frequência é elemento promotor de doenças psicológicas, sistêmicas e mentais, sendo esta última decorrente da neurodegeneração causada pelo abuso do álcool, e consequentes alterações comportamentais e déficits cognitivos que prejudicam sobremaneira o bem estar dos indivíduos. Saber quais áreas cérebrais são mais prejudicadas e quais podem ser recuperadas torna-se bastante relevante para podermos sugerir formas alternativas de reabilitação. Neste trabalho, pretendemos (1) conhecer as principais áreas encefálicas degeneradas pelo uso crônico do álcool, usando o peixe paulistinha (Danio rerio) como modelo de estudo, e (2) como a ação neurodegenerativa afeta a retenção de memória de longo prazo. Para isto, inicialmente, estudamos a aprendizagem aversiva deste animal frente a estímulo punitivo de eletro-choque, a fim de determinar o tempo de retenção de memória do peixe tratado cronicamente com diferentes doses de álcool. Utilizamos para isso, o paradigma de medo condicionado ao contexto, onde o animal passa a associar o ambiente com as propriedades aversivas de um estímulo negativo (eletrochoque) e evita o local. Após os procedimentos de treino para aprendizagem aversiva, os animais foram alcoolizados, diariamente por 60 minutos, em 7 dias. As doses experimentadas foram: 0%, 0,1%, 0,5% e 1%, compondo 4 grupos experimentais. Registramos e analisamos o tempo que o animal permaneceu em cada compartimento do aquário shuttle Box e a latência para o primeiro cruzamento em direção ao lado associado ao choque, considerando cada grupo experimental. Em relação ao tempo de permanência em cada lado, nossos resultados mostram que todos os grupos evitam o lado associado ao choque, 24 horas após os treinos, porém apenas o grupo 0,5% manteve este comportamento após os 7 dias de alcoolização (Friedman, p<0,001). Pretendemos continuar os experimentos deste estudo, realizando outro paradigma comportamental, o reconhecimento de objetos, bem como, realizar as análises de cortes histológicos do encéfalo do paulistinha para observação das áreas afetadas pela droga, relacionando tais áreas com aquelas mais usadas nas tarefa de aprendizagem e memória, através do uso de marcadores de crescimento celular, como BrDU (Bromo-Deoxiuridina) e PCNA (antígeno nuclear de célula em proliferação).