ESCOLA PARA OS FILHOS DOS OUTROS: TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA ESCOLA INDUSTRIAL DE NATAL (1942-1968)
História da Educação. Ensino Profissional. Escola Industrial. Cultura Escolar. Disciplinamento.
Este trabalho apresenta a reconstituição da trajetória histórica da Escola Industrial de Natal, no período de 1942 a 1968, fundamentada na análise de suas características culturais, sociais e pedagógicas, num processo em que as práticas educativas e os sujeitos que as constituíram foram sendo desvelados em suas ações. Nesse sentido, os conceitos de memória e cultura escolar ocuparam um lugar central para a compreensão dos elementos que caracterizaram a sua organização administrativa e pedagógica como, por exemplo, o currículo, finalidades, normas disciplinares, clientela, professores, dirigentes e a configuração do poder institucional. Criada para atender à demanda de um processo industrial que se fortaleceu no país, a Escola Industrial de Natal foi se constituindo num espaço majoritariamente ocupado por sujeitos, oriundos dos grupos sociais economicamente desfavorecidos da sociedade, em busca de uma formação profissional que lhes garantisse o exercício de uma profissão. O recorte temporal de 1942 a 1968 permitiu verificar as mudanças provocadas pela Lei Orgânica do Ensino Industrial, de 1942, e a Lei nº 3.552, de 1959, na estrutura organizativa dessa escola. Nesse contexto, uma característica que se evidenciou foi o propósito de fazer fluir entre os estudantes o amor à pátria, o respeito aos valores cívicos e a crença de que o ensino industrial seria capaz de impulsionar o desenvolvimento do país, aspecto que tomou uma maior dimensão a partir dos anos de 1950. Marcaram o caráter disciplinador dessa instituição o controle sobre as ações dos sujeitos, desenvolvido por meio de múltiplas práticas educativas, nos espaços específicos e no tempo previamente determinado, sob o olhar constante daqueles que participavam de alguma forma da condução desse processo. Por outro lado, a formação profissional e humana, assegurada aos seus alunos, possibilitou novas oportunidades de inserção social não só no Estado do RN, mas também em outras regiões do Brasil. Contraditoriamente, durante a sua trajetória, a Escola Industrial de Natal permaneceu sendo vista como uma instituição organizada, com bons professores, porém destinada aos filhos dos outros.