Escafandristas do tempo: narrativas de vida e regeneração da memória em São Rafael - RN.
memória, narrativa, orkut, fotografia.
Em fins da década de 70 do século XX, o semiárido do Rio Grande do Norte foi o
cenário do Projeto Baixo-Açu, cujo ponto alto seria a construção da barragem Engº
Armando Ribeiro Gonçalves, projetada para acumular 2,4 bilhões de m³ de água.
Considerava-se que tal iniciativa traria desenvolvimento econômico e social para
milhares de potiguares que sofriam as agruras da seca. Entretanto, a barragem
atingiria várias cidades da região, chegando a cobrir totalmente uma delas: São
Rafael. Em função disso, nos primeiros anos da década de 1980, próximo dali, uma
nova cidade foi edificada pelo DNOCS. A presente tese visa discutir como, após três
décadas, a população de São Rafael rememora esse fato e reconstrói a sua história
por meio da oralidade, da escrita e da informática. Tendo por base a perspectiva
moriniana de método como estratégia, foram realizadas visitas à cidade de São
Rafael e entrevistas abertas (individuais e coletivas) com dois grupos de sujeitos: um
composto por aqueles que viveram na sua antiga terra natal, e outro, por jovens que
já nasceram na nova cidade. Além dos relatos desses sujeitos, foram observadas as
narrativas visuais apresentadas pelas imagens, sobretudo fotográficas,
disponibilizadas num perfil criado para a cidade na rede social Orkut. Também foram
considerados como fontes para esse estudo os diálogos entre os rafaelenses que
acessam o referido perfil. Tendo como centralidade a observação de Edgar Morin de
que “o que não se regenera, degenera”, essa tese tem como argumento central a
ideia de que o “orkut de São Rafael” cumpre hoje um duplo e interdependente papel:
ser uma ferramenta que potencializa uma inteligência coletiva, por meio da
cooperação, da troca de ideias e de reconstituição de narrativas visuais e escritas.
Distante de uma concepção congelada do que seja a perspectiva histórica,
defendemos a tese de que o orkut regenera, repara, reproduz, restaura, reorganiza e
renova a memória e a história de uma cidade que sucumbiu à imensidão das águas
de uma barragem há quase trinta anos.