Representação do espaço; Paisagem; Sertão nordestino; Cinema pernambucano; Lírio Ferreira.
A dissertação se debruça sobre a diversidade temática e estética do cinema pernambucano surgido a partir dos anos 1990, com foco nos filmes Baile Perfumado (1996), Árido Movie (2005) e Acqua Movie (2019), dirigidos por Lírio Ferreira. Sob a ótica da ciência geográfica, o trabalho investiga como as narrativas ressignificam o sertão, explorando suas dimensões simbólicas, afetivas e temporais a partir de determinados caminhos. Esses caminhos são chamados de rotas de fuga, onde o estudo revela como os filmes oferecem visões multifacetadas do semiárido, articulando questões culturais, históricas e ambientais. Ao unir Cinema e Geografia, a pesquisa questiona estereótipos, propondo o sertão como um espaço narrativo complexo, onde os metatemas propõem as rotas que ampliam as interpretações e renovam o imaginário acerca da região. São explorados alguns aspectos como a construção do discurso e da paisagem do sertão cinematográfico, o desafio às concepções tradicionais e a contribuição das tramas imagéticas para um conhecimento geográfico mais profundo do Nordeste brasileiro. Para isso, a fundamentação teórica utiliza diferentes conceitos e categorias para se examinar o cinema como dispositivo geográfico. Autores como Deleuze (2007) e Aumont (1994) discutem seus paradigmas dos filmes como meio de construção de narrativas socioespaciais e representações da realidade. O cinema é visto também como ferramenta para entender geografias urbanas (Claval, 2001; Costa, 2011; Gomes & Ribeiro, 2013) e como espaço relacional que reflete dinâmicas socioespaciais (Harvey, 2004, 2015). A paisagem é analisada enquanto representação cultural (Cosgrove, 1998), vinculada às práticas sociais e percepções subjetivas (Berque, 1998; Barbosa, 1999). No Brasil, o cinema é uma forma de resistência e reinterpretação cultural, especialmente no Nordeste e no sertão (Albuquerque Jr., 1999; Maciel e Maia Filho, 2006). Em termos metodológicos, investigamos as representações utilizando a análise fílmica, onde inicialmente decompomos o filme, descrevendo os planos, sequências, enquadramentos, cenas, ângulos, sons e composição de quadro, e reconstruímos a partir da compreensão dos elementos decompostos, integrando-os em uma abordagem que considera a interação entre espaço fílmico e geográfico, examinando paisagens, locações, estruturas narrativas, discursos e os movimentos de câmera. Como resultado, observamos que o cineasta transforma o semiárido nordestino em um universo dinâmico e pulsante de possibilidades, subvertendo as imagens tradicionais de miséria e desolação. Seus filmes revelam uma paisagem em constante metamorfose, onde as rotas de fuga da aridez, com suas durezas e fissuras, funcionam como espelhos das vidas e emoções que nele se entrelaçam. Através de uma poética visual, Ferreira configura a paisagem como um reflexo dos corpos, convidando o espectador a repensar o sertão não como um espaço de escassez, mas como um território de potência. As narrativas cinematográficas indicam que a aridez do sertão se apresenta como um campo criativo e um espaço narrativo dinâmico. Ao longo da trajetória dos personagens, como Benjamin Abrahão, Jonas, Cícero e Duda, o sertão não se dissolve, mas se reinventa, mantendo sua identidade ao mesmo tempo em que se caracteriza por uma ambiguidade entre rupturas e permanências. O sertão, embora profundamente vinculado às suas raízes históricas, se configurou como um espaço fértil, onde a aridez potencializa a força e a capacidade de transformação, evidenciando dinâmicas fundamentais para a singularidade da região e dos que nela habitam.