O CIRCUITO ESPACIAL PRODUTIVO DA MANDIOCA NA PARAÍBA: TRADIÇÃO, RESISTÊNCIA E MODERNIZAÇÃO
Circuito espacial produtivo; território usado; mandioca; fécula; Paraíba.
Considerar o circuito espacial produtivo da mandioca é evidenciar uma das tradições mais valiosas da alimentação brasileira, com grande relevância histórica, econômica e social. Em 2017, a ONU elegeu a mandioca como o alimento do século XXI. No Brasil, ela é registrada como um bem imaterial da cozinha brasileira pelo IPHAN. Inicialmente cultivada pelos indígenas, hoje é produzida em todo o país, fazendo do Brasil o quarto maior produtor mundial em 2021. O beneficiamento da mandioca, inicialmente realizado de forma rudimentar nas casas de farinha, hoje também ocorre em agroindústrias automatizadas que utilizam fécula de mandioca das regiões Sul e Sudeste. Apesar de sua produção modesta, a Paraíba tem uma tradição significativa no cultivo e processamento da mandioca, estando atualmente em processo de mudança. Nesse contexto, o objetivo do estudo é analisar a modernização do circuito espacial produtivo da mandioca na Paraíba. A investigação fundamenta-se na teoria dos circuitos espaciais produtivos, destacando a centralidade da circulação nas diversas etapas da produção, com foco na mandiocultura. A atenção com os círculos de cooperação possibilita reconhecer as articulações entre agentes e lugares nos processos de aquisição de matéria-prima, gestão, produção, distribuição e consumo. Utiliza-se a categoria analítica do território usado, com a compreensão que o espaço é utilizado pela sociedade, poder público, instituições, empresas e trabalhadores. O estudo enfatiza a modernização como um processo heterogêneo, complexo e abrangente, envolvendo diferentes níveis técnicos e combinando mudanças e permanências, intensificado na segunda metade do século XX e impulsionado pelo meio técnico-científico-informacional. A metodologia da pesquisa compreende três etapas: a pesquisa bibliográfica, que envolve a revisão de conceitos-chave nos livros e artigos científicos; a pesquisa de dados estatísticos e documentos, que inclui a coleta de dados no IBGE e outras instituições sobre a atividade agrícola nacional e estadual; e a pesquisa de campo, que consistiu em visitas técnicas a propriedades rurais, casas de farinha e agroindústrias de goma em 13 municípios paraibanos, com observação dos processos produtivos, registros fotográficos e entrevistas com responsáveis e trabalhadores. A cultura da mandioca tem um grande potencial como fonte de alimento, renda e desenvolvimento econômico para a Paraíba. No entanto, o cultivo tem estagnado nas últimas décadas, contrastando com o aumento da entrada de fécula de mandioca e a saída de goma de tapioca para outros estados. No período técnico-científico-informacional, as técnicas utilizadas nas casas de farinha da Paraíba são um híbrido de elementos novos e herdados, caracterizando-se por tradição, resistência e níveis variados de modernização. As agroindústrias representam a modernização do processo produtivo da goma de tapioca, introduzindo objetos técnicos modernos e estabelecendo novas relações de solidariedade e fluxos materiais e imateriais entre subespaços distantes do território estadual. Essas novas dinâmicas destacam a necessidade de políticas públicas que apoiem a modernização e a regularização das casas de farinha para que os pequenos produtores tenham acesso aos novos mercados, garantindo benefícios para todos os envolvidos no circuito espacial produtivo da mandioca na Paraíba.