ÁREAS ÚMIDAS, SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E TRADE-OFFS: AVALIAÇÃO DOS MACROHABITATS COSTEIROS DO SEMIÁRIDO BRASILEIRO
Litoral semiárido; macrohabitats costeiros de AUs; serviços ecossistêmicos; trade-offs.
As áreas úmidas, encontradas em todas as porções do globo, são macrohabitats de transição entre o meio aquático e terrestre, sujeitas a inundações por água doce, salobra ou salina, de origem natural ou artificial, permanente ou temporária. No litoral setentrional do Rio Grande do Norte, as áreas úmidas se tornaram um dos ambientes mais expostos às forças motrizes humanas, o que, muitas das vezes, ocorre em função das suas características naturais locais, como a morfodinâmica, influenciada, entre outros fatores, pela ação diária das marés, cota topográfica abaixo de 1,0 metro e constituição sedimentar. Os macrohabitats naturais de AUs, como canais de maré, mangue, apicum, lagunas e lagoas têm sido comprometidos, sobretudo em função da expansão das atividades econômicas. Estas, classificadas como macrohabitats artificiais, suscitam interferências diretas e indiretas na prestação dos serviços ecossistêmicos. Nesse sentido, pesquisas que avaliem as causas e os efeitos que comprometem a oferta e a mudança de serviços surgem como ferramentas diagnósticas e prognósticas cruciais para órgãos ambientais e fiscalizadores, além de contribuir em níveis científicos para as discussões entre pesquisadores sobre o tema. Dessa forma, considerando a importância ambiental, econômica e social dessas áreas úmidas, esta tese objetiva avaliar os macrohabitats costeiros no baixo curso do Rio Piranhas-Açu (RN/NE), a partir da relação entre a prestação de serviços ecossistêmicos ofertados pelos macrohabitats naturais e artificiais, bem como a influência dessa relação nos diferentes trade-offs da área. Para alcançar este objetivo, os procedimentos metodológicos consistiram nos seguintes passos: 1) levantamento bibliográfico; 2) uso de geotecnologias para a caracterização e a espacialização dos macrohabitats costeiros; 3) aplicação de estatísticas multivariadas para análise de solo dos diferentes macrohabitats naturais; 4) classificação dos serviços ecossistêmicos através do suporte teórico-metodológico da Classificação Internacional Comum de Serviços Ecossistêmicos (CICES); e 5) construção da matriz DPSIR (Driver–Pressão–Estado–Impacto–Reposta) para identificação dos indicadores de causa e efeito que influenciam na perda ou mudança de serviços (trade-offs). No baixo curso do Rio Piranhas-Açu, foram identificados seis macrohabitats: canais de maré, mangue, apicum, lagunas, salinas e carcinicultura. Esses se distribuem de forma heterogênea, com variabilidade sedimentológica devido à sua localização em zonas periodicamente inundadas, influenciados tanto pela dinâmica marinha quanto fluvial. Os principais resultados indicaram um aumento das salinas solares (8.185,4 ha) e da carcinicultura (2.100 ha) ao longo dos 53 anos analisados. Em contrapartida, o apicum apresentou uma redução de 3.055,95 ha e o mangue de 439 ha, o que demonstra uma crescente inserção dos macrohabitats artificiais sobre esses macrohabitats naturais de AUs. A identificação dos serviços revelou que esses ambientes possuem uma alta capacidade de oferta, especialmente nas categorias de provisão, destacando-se a coleta de peixes e crustáceos, e de regulação/manutenção, com a regulação das condições físicas, químicas e biológicas. A partir da análise dos indicadores da cadeia DPSIR, foi possível elencar 11 trade-offs, sendo três na seção provisão e oito na seção regulação/manutenção, evidenciando a necessidade de aferição dos diferentes usos e ocupações na paisagem. Para mitigar esses efeitos, foram propostas três respostas: criação de áreas prioritária para conservação; elaboração do Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD); e monitoramento ambiental. Essas medidas visam solucionar os impactos e promover o uso sustentável frente à dependência humana dos SE, culminando na construção de um modelo conceitual para a recuperação de macrohabitats naturais degradados e, consequentemente, o aumento dos serviços ecossistêmicos. Espera-se que os resultados alcançados contribuam para o diagnóstico e prognóstico local, incentivem ações contínuas de educação ambiental, bem como à fiscalização e monitoramento da água, do solo e da salinidade.