Sazonalidade na exposição a flebotomíneos em cães e humanos em área endêmica para leishmaniose visceral: um estudo de intervenção
Flebotomíneos, Saliva, Exposição
A leishmaniose visceral é uma doença tropical negligenciada, causada pelo protozoário Leishmania infantum, possuindo como vetor o flebotomíneo (Lutzomyia longipalpis) e como principal reservatório o cão doméstico. A principal medida de controle dessa endemia no Brasil é a eutanásia de cães infectados. No entanto, essa medida não tem sido efetiva, devido a vários fatores, incluindo a defasagem temporal de sua realização. A utilização de coleiras impregnadas com deltametrina por cães tem sido uma das medidas alternativas potenciais de controle da infecção. Essa estratégia parece diminuir o risco de exposição desses animais aos flebotomíneos, com consequente diminuição da exposição canina. Esse trabalho objetivou verificar as taxas de exposição ao vetor e a Leishmania em humanos e cães após adoção do uso de coleiras impregnadas com deltametrina por cães residentes em área endêmica para leishmaniose visceral. Cães de área endêmica da grande Natal, RN, receberam coleiras impregnadas com deltametrina, além das medidas tradicionais de controle, incluindo a eutanásia dos cães que estavam infectados por Leishmania infantum; enquanto cães controles foram submetidos apenas ao tratamento tradicional. Cães e pessoas das duas áreas tiveram amostras de sangue coletadas, sendo uma coleta para humanos e duas coletas para cães (momento de intervenção e 6 meses após). Para determinação dos níveis de exposição ao vetor, foi realizada a pesquisa de anticorpos anti-saliva de flebotomíneo, através da técnica de ELISA, com homogenato de glândula salivar de L. longipalpis e proteínas recombinantes LJM11/LJM17. Foi verificado que nas duas áreas, os cães apresentaram redução dos níveis de anticorpos anti-saliva após 6 meses do estudo. Para a área de intervenção as reduções foram de 59,58% e 57,85%, para anti-SGH e anti-LJM11/17, respectivamente. Já na área controle, as reduções foram de 57,27% e 62,16%, para anti-SGH e anti-LJM11/17, respectivamente. Na área de intervenção, os humanos demonstraram menores títulos de anticorpos anti-SGH (p<0,0001), anti-LJM11/17 (p = 0,0002) e anti-Leishmania (p <0,0001), quando comparados a indivíduos da área controle. Homens e mulheres se mostraram igualmente expostos ao vetor, independentemente da área de estudo. Os níveis de anticorpos anti-homogenato de glândula salivar apresentaram forte correlação com os níveis de anticorpos de proteínas recombinantes (cães:r=0,96; humanos: r=0,56). O trabalho demonstra a necessidade de investigar a eficácia de novas medidas de controle da leishmaniose, levando em consideração o ciclo biológico do parasita, o aspecto sazonal da densidade vetorial, bem como as condições ambientais específicas de cada localidade.