O CATIMBÓ JUREMA DE MARIA DO SALGADINHO: REPRESENTAÇÕES DO SAGRADO NO SERTÃO DO SERIDÓ POTIGUAR
Religião afro-indígena; Alteridade, Jurema Sagrada.
Este trabalho tem como objetivo analisar as práticas do Catimbó Jurema de Maria do
Salgadinho entre os anos de 1950 e 2017, no contexto das religiosidades afro-ameríndias
no Seridó Potiguar. Partimos da premissa de haver em suas práticas traços de antigos
rituais, dos indígenas que habitaram a ribeira do Seridó. Povos genericamente chamados
de Tapuias – os Tarairiú–, que viviam pelo Sertão Norte riograndense. Mediante a
gestualidade, a ritualística e o constante uso da fumaça, das folhas e da bebida da jurema,
acreditamos nessa forte aproximação entre a Jurema e o culto indígena aos ancestrais.
Questionamos: Em que medida, o Catimbó Jurema de Maria do Salgadinho, no município
de Caicó-RN, incorpora essas práticas juremeiras ancestrais e se cruza com a umbanda,
aflorando novas percepções das religiosidades afro-indígenas presentes no Seridó
Potiguar? Para nortear nossas discussões, contamos com Ronaldo Vainfas (1995), que
nos ajuda a revermos os efeitos da presença europeia na América quinhentista, Darcy
Ribeiro (1995), que aborda a formação do povo “brasileiro”. Cristina Pompa (2001),
tratando da diversidade indígena e a utilização da apropriação e ressignificação de
elementos católicos-cristãos pelos indígenas, em contexto de aldeamento/missões. E
mais, Mircea Eliade (2010), Sandro Guimarães Salles (2010), Luiz Assunção (2010),
entre outros estudiosos que tratam da problemática em questão. Assim, compreendemos
ser relevante a aproximação da academia com as micro histórias, possibilitando narrativas
como a da religiosa Maria Moreira da Silva (Maria do Salgadinho 1933-2017), pois estas
movimentam outras centralidades promovendo através de tensões, negociações e
acomodações, mudanças significativas no espaço e na vida de pessoas, que se permitem
vivenciar experiências profundas em qualquer âmbito, incluindo o espiritual. Este foi o
caso dessa mulher sertaneja, mestiça e rural, que participou da história do seu lugar
através de sua vida religiosa, forjada nas brenhas do Sertão.