O SERTÃO OBNUBILADO: ARARIPE JÚNIOR E A PRODUÇÃO DO SERTÃO NORTISTA NA LITERATURA
BRASILEIRA (XIX-XX).
Sertão; Literatura; Araripe Júnior; Obnubilação brasílica
Esta dissertação tem como objeto o sertão na literatura brasileira do século XIX, na obra do escritor e crítico
literário Tristão de Alencar Araripe Júnior, autor que pertenceu à geração de intelectuais da década de 1870,
tendo participação ativa no debate intelectual brasileiro. Ao lado de Capistrano de Abreu e Raimundo Antônio da Rocha Lima, participou da Academia Francesa e posteriormente da Escola Popular. Além destas duas
instituições, Araripe Júnior também participou da Escola de Recife, que existiu paralelamente à Academia
Francesa de Fortaleza, sem que necessariamente uma influenciasse a outra. A Escola do Recife tinha
tendências intelectuais predominantemente germânicas advindas da escolha de seus mentores, tais como Tobias Barreto e Sílvio Romero, fundamentadas principalmente no Monismo de Ernst Heinrich Philipp August Haeckel e no Evolucionismo de Herbert Spencer, além do Positivismo ortodoxo e heterodoxo dando uma orientação cientificista aos seus estudos. Apesar disso, sua obra recebeu limitada atenção em trabalhos acadêmicos, fora da área literária, principalmente no tocante à temática do sertão. Nesse sentido, procuramos a partir da obra O Reino Encantado: crônica sebastianista (1878) compreender como o autor constrói na sua escrita uma ideia de sertão. Na sua vasta produção crítica, Araripe Jr., criou o conceito de obnubilação brasílica, termo utilizado pelo autor para explicar o processo de adaptação do homem europeu ao meio tropical brasileiro e à formação da brasilidade. Desse modo, procuramos explorar a interpretação do autor a respeito do fenômeno da obnubilação brasílica em relação ao homem sertanejo. Nosso objetivo é compreender os caminhos por meio dos quais se produziu, no âmbito da cultura literária brasileira do século XIX e nos escritos de Araripe Júnior o sertão do norte. Tentar compreender as práticas discursivas sobre os sertões na produção de Araripe Júnior passa pela procura de relações de poder e de saber que produziram estas imagens e estes enunciados, que inventaram o sertão nortista. Para tal, estabelecemos um diálogo teórico com Pierre Bourdieu, Michel Foucault e Koselleck para tratar da relação das práticas discursivas do autor com a produção de uma dada visão do sertão do Norte na literatura oitocentista brasileira.