O Sertão é Neon: transversalidades e pluralidades de identidades de gêneros no filme Boi Neon de Gabriel Mascaro
Boi Neon, Cinema, Masculinidades, Sertão Contemporâneo
Este trabalho tem como objetivo compreender os discursos instituídos pelas imagens cinematográficas contemporâneas sobre o sertão e as relações de gênero aí prevalecentes, sobretudo, na construção das masculinidades sertanejas configuradas em um cenário de rupturas e continuidades, em relação aos códigos morais que modelam o ser(tão). Para tal empreitada, partimos do recorte temporal delimitado entre os anos 2000 a 2015, tendo como marco algumas produções fílmicas com a temática do sertão, comoCinemas, aspirinas e urubus (2005), Luneta do Tempo (2014) e o gênero novela com a produção de Cordel Encantado (2011). Além de tais fontes, trabalhamos com a fonte basilar dessa escrita, o filme Boi Neon (2015), do diretor e roteirista pernambucano, Gabriel Mascaro. O referencial teórico e metodológico estrutura-se na análise de discurso de Michel Foucault visando entender as várias camadas de sentidos que constituem as imagens, sobretudo, cinematográficas para o estudo que nos propomos a realizar. Essa análise também partiu do uso de método arqueológico das imagens, ou seja, uma escavação das camadas visuais que constituem nosso modo de ver o sertão, apartir dos pressupostos apresentados pelo historiador da arte Georges Didi-Huberman. A discursão teórica também está fundamentada na Teoria Queer para compreender as novas relações de gênero que se movem na narrativa fílmica de Boi Neon, a partir das concepções de Judith Butler (2021) e das reflexões de Richard Miskolci (2021) e Guacira Lopes (2018) quando pensam o gênero como construção normativa na cultura e a possibilidade de viver outra diversidade, outras maneiras de exercer a masculinidade de maneira plural, para além das normas. Nessa direção, a partir do conceito de imagem sobrevivente ou imagem sintoma de Didi-Huberman, concluímos que as imagens do sertão anteriores à produção de Boi Neon são imagens sobreviventes de outras produções visuais anteriores (como os filmes do Cinema Novo e da Retomada) e que as imagens capturadas por Boi Neon são imagens-ação, que, por sua vez, são imagens críticas, transgressoras de uma dada visualidade do sertão e do tempo dessas imagens. Nessa linha, as imagens em volta do corpo masculino e feminino, nessa espacialidade são, de certa forma, desconstruídas e diferentes das elaborações já realizadas em volta do sertanejo(a), assim como é o sertão/agreste na perspectiva do filme. Portanto, o sertão contemporâneo de Boi Neon é um sertão em movimento, de passagens de temporalidades, o arcaico e o novo, do pretérito e presente, de corpos em “dilatação” e, enfim, um sertão em trânsito.